segunda-feira, 30 de abril de 2012

A mulher e o lobo


“Uma mulher saudável é muito parecida com um lobo, grande força de vida, doação de vida, ciente de seu território, intuitiva e leal. Porém, a separação de sua natureza selvagem faz com que uma mulher torne-se escassa, ansiosa, e temerosa.

A natureza selvagem contém a medicina para todas as coisas. Ela transporta estórias, sonhos, palavras e canções. Ela carrega tudo que uma mulher precisa ser e saber. Ela é a essência da alma feminina...

Com a natureza selvagem como aliada e professora, nós não vemos apenas com através de nossos olhos, mas através dos muitos olhos da intuição. Com a intuição nós somos como uma noite estrelada, nós observamos o mundo através de milhares de olhos.


Isto não significa perder as socializações básicas de uma pessoa. Isto significa totalmente o oposto. A natureza selvagem tem uma integridade vasta com ela. Significa estabelecer território, encontrar o grupo de uma pessoa, estar em um corpo com certeza e orgulho, falar e agir a favor de si mesma, estar consciente, extrair os poderes naturais da intuição feminina e elevar-se com dignidade, proceder como um ser poderoso que é amistoso, mas nunca domesticado.

A mulher selvagem é aquela que troveja na face da injustiça. Ela é aquela pela qual nós abandonamos o lar para procurar e aquela pela qual nós retornamos ao lar. Ela é intuição, consegue ver longe, ouvir profundo, e ela tem um coração leal.

Ela deve vagar pelas antigas sendas, defender seu conhecimento instintivo, orgulhosamente ostentar as cicatrizes de batalha de sua época, escrever seus segredos em paredes, recusar ser envergonhada, liderar o caminho, ser astuta e usar sua perspicácia feminina.

Onde podemos encontrá-la? Ela caminha nos desertos, cidades, florestas, oceanos, e na montanha da solidão. Ela mora nas mulheres em todos os lugares: em castelos com rainhas, nos escritórios e nos ônibus noturnos para os subúrbios.

Ela mora em um local distante que abre caminho através de nosso mundo. Ela mora no passado e é convocada por nós. Ela está no presente. Ela está no futuro e caminha de volta no tempo para nos encontrar agora.

Mulher selvagem sussurra as palavras e os caminhos para nós, e nós a seguimos. Ela corre à nossa frente, mas para e espera para ver se nós a estamos alcançando. Ela tem muitas coisas para nos mostrar.

Quer você possua um coração simples ou ambicioso, quer você esteja tentando alcançar o grande sucesso ou apenas atingir o dia de amanhã, a natureza selvagem pertence a você.

Não seja uma tola. Volte e fique sob aquela flor vermelha e caminhe, direto em frente para superar a última milha mais difícil. Escale até a caverna, rasteje através da janela de um sonho, examine o deserto e veja o que você encontra. É o único trabalho que temos que fazer.

Sem nós, a mulher selvagem morre. Sem a mulher selvagem, nós morremos. Para a verdadeira vida, ambos devemos viver.

O instinto maternal em cada um de nós é a Medicina do Lobo. Pois o Lobo é uma progenitora, e um progenitor. De forma simplificada, isto significa que o lobo detém a energia paternal e maternal em sua vibração. Esta é a verdadeira Medicina do Lobo. A Medicina do Lobo com a qual uma mulher caminha, que ela chama de intuição, é o Lobo amigo dela. No antigo caminho, o lobo amigo era conhecido por vir ao vilarejo proteger as crianças.
Esta energia do lobo amigo vem do sobrenatural. É a parte sobrenatural da mulher que sabe como alterar seu amor, sua intenção, e suas habilidades de criação para a forma do Lobo. Assim, ela vem ao vilarejo na forma de uma Loba, para proteger as crianças e os mais velhos carentes.”



The Soul of the Indian
Dr Charles Alexander Eastman, 1911
born Ohiyesa of the Santee Sioux, in 1858

sexta-feira, 16 de março de 2012

As Palavras Interditas

"Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas."

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”

domingo, 4 de março de 2012

Regresso

Tenho andado distante, distraída, talvês mais ocupada com outras formas de viver.
Com os pés na areia passei também a entrar no mar e deixar todos os lamentos lá... com ele, o mar.
Deixei de verbalizar o que sinto a viver alguns momentos com mais intensidade.
Continuo a apreciar a essencia de amizade e é isso que me rege e seguirei para todo o sempre.

Há momentos indescritiveis, só vivendo...

Aqui continuarei apenas a juntar grãos de areia e  conchinhas que vou colhendo na minha caminhada de pés n`areia...

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Eu




"Até agora eu não me conhecia,
julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me - pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
E a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!"

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

A ternura




"Há na ternura uma constância impossível na paixão mas obrigatória no amor. É um carinho rumorejante, oficialmente pouco ambicioso, mas capaz de resistir às mirabolantes tropelias do coração. Porque nem o ressentimento mais azedo pode garantir a sua morte. Ele sobrevive, com doce arrogância, em meia dúzia de neurónios, fieis depositários de recordações politicamente incorrectas. Também nasce de amizades surpreendidas e indiferenças «definitivas». Tudo isto sem alarde. Mas deixando marcas; pistas; tiros de partida; promessas de chegada..."



Júlio Machado Vaz

 "O Amor é..."

domingo, 5 de junho de 2011