domingo, 25 de agosto de 2013

Ambiciosa


Para aqueles fantasmas que passaram, Vagabundos a quem jurei amar, Nunca os meus braços lânguidos traçaram O voo dum gesto para os alcançar... Se as minhas mãos em garra se cravaram Sobre um amor em sangue a palpitar... - Quantas panteras bárbaras mataram Só pelo raro gosto de matar! Minha alma é como a pedra funerária Erguida na montanha solitária Interrogando a vibração dos céus! O amor dum homem? - Terra tão pisada, Gota de chuva ao vento baloiçada... Um homem? - Quando eu sonho o amor de um Deus!...

Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930) 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Às vezes...



Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer.

E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordeiramente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade.


Às vezes...às vezes, esquecemo-nos de viver. 


Movimento Novos Rurais
Pessoas mais livres, plenas e felizes! https://www.facebook.com/novosrurais.farmingculture



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Família Feliz


Este título recorda-me um menu de restaurante chinês.
Menu esse que consiste numa pequena variedade de especialidades, sempre acompanhadas do arroz XAU XAU, e que se destina a preencher a mesa de uma família chinesa em dia de festa. Essa ementa, equilibrada como é, sacia um pequeno grupo sem chegar a enjoar. Ao contrário das refeições portuguesas, a comida chinesa contem todos os nutrientes necessários para uma alimentação agradavelmente equilibrada, nunca chegando a enjoar nem a fazer mal quando ingerida nas doses sugeridas nos menus chineses.  "Família feliz para 6 pessoas. – Família feliz para 8 pessoas…" 
Há também que ache pouco a encomende um menu de 8 pessoas apenas para dois ou três comensais e é isso que faz mal como em tudo na vida.
Tudo aquilo que passe das medidas torna-se prejudicial.
Família feliz tem de ser realmente equilibrada. Nem com intensidade a mais nem a menos, o bastante para se manterem todos unidos sem se anularem uns aos outros. Manter um equilíbrio entre os elementos sem excessos.
Equilíbrio é o essencial.
Por isso se diz que os opostos se atraem.
Na cultura chinesa dá-se valor as coisas simples comparando-as muito sabiamente com a vida.
Família feliz é, nada mais nada menos, que o equilíbrio harmonioso entre vários elementos.
Sem dúvida que isso sim, é um dos conceitos de felicidade. 

Coisas da Vida

"A sabedoria não se encontra no topo de nenhuma montanha nem no último ano de um curso superior.
É num pequeno monte de areia do recreio do jardim-de-infância que se pode aprender tudo o que é necessário na vida:
Partilhar                                                                                                       
Respeitar as regras do jogo
Não bater em ninguém
Guardar as coisas nos sítios onde estavam
Manter tudo sempre limpo
Não mexer nas coisas dos outros
Pedir desculpa quando se magoa alguém
Viver uma vida equilibrada: estudar, pensar, desenhar, pintar, cantar, dançar, brincar, trabalhar, fazer de tudo um pouco, todos os dias."
 Robert Fulghum



                                                                                                   

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Hibernar

Tenho sono.
Muito sono...
Preciso hibernar.
Preciso dormir até que o inverno passe!  
É verão, eu sei.
Mas eu preciso hibernar.
Dormir a sono solto sem sonhos, pesadelos, barulhos ou outras interrupções.
Dormir sem dar pelo tempo passar.
Acordar nem que seja daqui a cem anos. 
Jovem e fresca como a bela adormecida.
E se comer uma maçã, ou picar um dedo num fuso?… quero dormir! 
Quero esquecer o cinzento e acordar no azul!
Não é possível, eu sei...
Como seria maravilhoso carregar num interruptor e apagar o que não interessa!
Apagar a luz e dormir...
Suprimir o que incomoda!
Dormir até que tudo passe! 
Hibernar, pronto!

Eu preciso de hibernar.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Do que me divorciaria?...

Divorciarme-ia da passividade...
Divorciarme-ia da mesquinhez...
Divorciarme-ia da monotonia...
Divorciarme-ia da carteira vazia...
Divorciarme-ia da cusquice...
Divorciarme-ia da medocridade...
Divorciarme-ia da falsidade...
da estupidez alheia...


Divorciarme-ia do trabalho forçado... apenas por que tem de ser...
Enfim... cortava relações com o que não me interessa!