domingo, 29 de maio de 2016

Pequena Elegia Chamada Domingo



"O domingo era uma coisa pequena. 
Uma coisa tão pequena 
que cabia inteirinha nos teus olhos. 
Nas tuas mãos 
estavam os montes e os rios 
e as nuvens. 
Mas as rosas, 
as rosas estavam na tua boca. 

Hoje os montes e os rios 
e as nuvens 
não vêm nas tuas mãos. 
(Se ao menos elas viessem 
sem montes e sem nuvens 
e sem rios...) 
O domingo está apenas nos meus olhos 
e é grande. 
Os montes estão distantes e ocultam 
os rios e as nuvens 
e as rosas. "

Eugénio de Andrade, in 'Poesia e Prosa [1940-1980]' 
Pintura de Ana Paula Lopes

sábado, 28 de maio de 2016

Momento Zen


Pisar a relva molhada...
Sentir o cheiro da terra...
Abraçar as cores do campo.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Expectativas



Talvez as pessoas não me decepcionem.  O problema talvez seja eu, que espero muito delas.
Bob Marley

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sea Groove & Chullage - N'Outono


Ambiciosa

Ambiciosa


Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O voo dum gesto para os alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? - Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor de um Deus!...


Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930) 


Porto de Abrigo

quinta-feira, 12 de maio de 2016

...ET...

Há dias que me sinto uma autentica extraterrestre.
Completamente fora do contexto e deslocada da realidade onde vivo.
Não me identifico com nada disto.
Vou-me adaptando!
Talvez seja este o sentido da minha presença neste mundo.
Mas sempre que ouço que há vida noutro planeta... fico tão feliz!...
Afinal não estou sozinha! 

Sílvia.Q.Sanches  - maio 2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Invasões

As invasões fazem parte da história mundial. A cultura ibérica, tão característica  é sem dúvida resultado das diversas invasões sofridas ao longo dos séculos.
Portanto, está intrínseco em cada ibérico, em cada português, o sentido invadir,  sobretudo o espaço alheio.
Inevitável é, à semelhança das varias invasões históricas, uma reacção inversa como o sentido de repulsa e sobretudo de evasão,  provocando enfim o desejo de autonomia.

É sempre bom ter em mente, que a lição a reter após cada grande invasão é que:

"A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do outro."

Sílvia.Q.Sanches 10 maio 2016 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Português pelo mundo

Com os descobrimentos deu-se o início da globalização e consequentemente a Diáspora portuguesa. O português é a 6ª língua materna do mundo, usada por 260 milhões falantes, e a 3ª língua mais falada na Europa sendo apenas sobreposta pelo inglês e o espanhol.
Fala-se português em vários países africanos (os PALOPS), continente americano (Brasil) e Asia (Macau, India e Indonésia e até Malaca). São nove os países de língua oficial portuguesa. Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, S. Tomé, Cabo-Verde, Timor, Guiné Bissau e mais recentemente Guiné Equatorial, tudo países descobertos e ocupados na época dos descobrimentos e onde o testemunho português foi bem vincado. Assim como nas regiões onde o português já não é a língua oficial mas onde é reconhecido como uma referência cultural.
Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPS) são Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Unem-se a Portugal através da história e têm vindo a desenvolver alguns acordos ao nível do Ensino Superior, na atribuição de bolsas e de vagas, nomeadamente através do funcionamento de Comissões Paritárias (Socioeconómico).
CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, criada em Novembro de 1989, por ocasião da realização do primeiro encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos países de Língua Portuguesa, como o nome indica unidos pelo idioma comum e por uma visão compartilhada do desenvolvimento e da democracia.
Instituto Camões foi criado para a promoção da língua portuguesa e da cultura portuguesa no exterior. É uma organização pública, mas autónoma na administração do património cultural da língua portuguesa. Espalha-se pelo mundo em vários pólos de formação, não só nos países de língua oficial portuguesa como nos países onde há presença de portugueses.


Um dos monumentos deixado pelos portugueses no mundo é em o forte Nossa Senhora da Vitória em Ormuz antigo entreposto marítimo, à entrada do Golfo Pérsico, tomado por Afonso de Albuquerque em 1507, que iniciou a edificação do Forte que foi aba depois, consequência do “Motim dos Capitães”. Um marco importante da breve presença portuguesa.


Em suma, presença portuguesa no mundo está muito vincada tanto a através da língua como culturalmente, e nas importantes edificações em pontos estratégicos nas rotas comerciais. A cultura portuguesa está presente na história mundial não só devido aos descobrimentos como aos movimentos migratórios do povo português que desde a epopeia que mudou a história global sempre procurou novos mundos contribuindo com a cultura da alma lusa.  

Sílvia. Q. Sanches  2013

sábado, 7 de maio de 2016

Recordações

Vivia perto da escola,  e nas férias ia brincar no pátio do recreio. Não havia vedações altas nem portões fechados à chave. Os meninos iam para a escola a pé, e tinham a chave de casa. Eu até já sabia estrelar um ovo e fritar umas salsichas, caso a minha mãe não chegasse a casa a tempo de me fazer almoço. Durante a tarde frequentava o ATL do Colégio Ramalho Ortigão. Fazia os deveres da escola mas o sentido estava sempre na brincadeira, no mundo de fantasia, de princesas e rainhas, filhas e mães, guerreiros do espaço, imitando uma série televisiva da época Star Trek.  Gostava de protagonizar a  Maya, uma das tripulantes da nave espacial Enterprise e vulcaniana como o Mr Spock. Transformava-se nas mais variadas criaturas e isso fascinava qualquer criança.
Os nossos Walkie-talkies, telefones portáteis, armas laser, etc. eram nada mais que pedaços de cadeiras velhas amontoadas num dos cantos do recreio. Neles desenhávamos com canetas de feltro, as teclas, ecrãs e botões especiais de laser imaginários. Não tínhamos “Magalhães”, “Play-Stations”, “Nintendo DS”, Tablets, nem sonhávamos que um dia iríamos andar com um pequeno aparelho, chamado telemóvel no bolso, muito menos Iphones, e que  tudo isso iria mudar as nossas vidas. O telefone era um objeto raro, nem todos o tinham em casa, já inventávamos aparelhos fantásticos, que nenhuma criança dos dias de hoje se atreveria sequer a sonhar porque com tanta escolha, tanta variedade, eles nem precisam sonhar. Antes de imaginarem já têm à disposição.
Sou de uma geração feliz, que brincava na rua, subia aos muros, percorria o bairro de bicicleta e jogava à macaca e ao pião no meio da estrada. Temo por uma geração em que os meninos não têm liberdade, não podem sair de casa ou da escola sem a companhia de um adulto, são impedidos de criar livremente e até a comida é geneticamente manipulada, não se sabendo ainda o que pode provocar no futuro. Já para não falar da sua vida social, tão diferente da que tínhamos. Hoje tão solitários agarrados a sistemas virtuais. Será que os meus netos serão gerados via Internet? 

Silvia.Q.Sanches 8-01-2014

terça-feira, 3 de maio de 2016

Capitães da Areia

Passava os verões quase sem vigilância, na praia da Foz do Arelho, enquanto os meus avós maternos faziam o seu negócio, na altura, um bar de praia, e os meus pais tomavam conta da loja de fotografia, o negócio da família. Na Foz do Arelho, junto ao cais, formara-se ali um ponto de venda dos mais diversos negócios, uns com farturas, outros com frangos, outros frutas, brinquedos de praia, enfim, tudo o que o povo consumia ou era levado a consumir, foram anos em que o poder económico do povo português tinha aumentado substancialmente, ainda antes da revolução dos cravos. 
Mas as crianças não sabem o que é politica, e até aos 10 anos vivia os meus Invernos entre a escola, as Atividades de Tempos Livres do Colégio Ramalho Ortigão, as brincadeiras na minha rua e à porta da loja de fotografia, esperando as férias grandes. Os verões que pareciam eternidades, passados na Foz do Arelho, entre os mergulhos no cais e a apanha de caracóis que se coziam ainda com ranhoca, e que faziam as delícias dos lanches da petizada daquele “centro comercial”. O grupo era grande, com idades compreendidas entre os 4 e os 12 anos, formava um autêntico bando de “Capitães da Areia” daquela praia. Éramos os donos do pedaço, e os miúdos que ousassem pensar que nos podiam fazer frente, quer no parque dos baloiços quer na sessão de mergulhos do cais, saíam com certeza de cabeça baixa para, depois da demonstração de “força”, se tornarem grandes amigos do grupo. Posso dizer que tive uma infância livre, talvez demais, mas saudável. Apendemos a ser independentes, a fazer frente aos perigos, ou pelo menos, saber contorná-los, a respeitar as hierarquias, a saber conviver e fazer amigos. Apesar de parecermos um bando de “índios” éramos meninos bons e respeitadores das regras do bem viver, sabíamos respeitar os mais velhos, adorávamos ouvir contar histórias da lagoa ou outras experiências vividas por eles. Ajudar os pais, avós ou tios a arrumar as respetivas vendas era também uma das tarefas de todos os meninos e meninas, ao final de cada dia.

Sílvia Q. Sanches 08-01-2014

Eutanásia

Foi como profissional de saúde que testemunhei histórias de sofrimento. Assisti a momentos de profunda angústia perante a uma vida desgastada e uma morte que tardava em chegar. Situações em que, mesmo com todo o conforto e cuidados de saúde, os idosos pediam que os ajudassem a acabarem com aquele sofrimento. O medo de se tornarem um fardo para aqueles que o rodeavam estava presente a todo o momento e o direito à autodeterminação e liberdade de escolha era-lhes negado.
Quando se chega ao final da vida sem qualquer tipo de mobilidade, incapaz de comer pela própria mão ou de fazer uma qualquer das atividades da vida diária (AVD): levantar-se, lavar os dentes, vestir-se sozinho, etc… não há qualquer motivo para se permanecer a vegetar no leito de uma cama, literalmente a apodrecer. Todos temos direito a uma vida e morte digna.
Se a situação for irreversível para quê viver com o auxílio de máquinas?
 A maioria da classe médica rege-se, essencialmente, pela saúde do doente o respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início e em não fazer uso dos conhecimentos médicos contra as leis da Humanidade, esquecendo que também que deve zelar pela dignidade do doente e acabar com a má qualidade de vida.
Desligar as máquinas que mantêm aqueles que se encontram em morte cerebral poderá provocar sofrimento, ainda que por pouco tempo e do ponto de vista religioso é considerado usurpação do direito à vida humana, afinal, todos temos direito à vida. É necessário o consentimento do interessado e por vezes isso não acontece mas desde que não haja qualquer esperança de vida, na minha opinião, deve ouvir-se o apelo do bom senso e não deixar que o capricho da ciência se sobreponha ao verdadeiro sentido da vida. Não havendo esperança de vida, a ciência deve sim, proporcionar uma morte digna e não um prolongar do sofrimento tanto do doente como de quem o rodeia.
A legislação também não ajuda, aquele que de alguma forma ajudar um doente a acabar com o seu sofrimento, poderá ser condenado por homicídio.
A eutanásia passou da simples lei do mais forte à capacidade de compreender o sofrimento alheio em que facto de ninguém ser igual a ninguém e haver diferentes formas de encarar a morte tem tornado este tema tão polémico.
Sou a favor da eutanásia desde que a condição do doente (velho, adulto ou criança), seja bem avaliada e não haja qualquer esperança de vida digna.

Sílvia Q. Sanches - Dez 2013