sexta-feira, 16 de março de 2012

As Palavras Interditas

"Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas."

Eugénio de Andrade, in “Poesia e Prosa”

domingo, 4 de março de 2012

Regresso

Tenho andado distante, distraída, talvês mais ocupada com outras formas de viver.
Com os pés na areia passei também a entrar no mar e deixar todos os lamentos lá... com ele, o mar.
Deixei de verbalizar o que sinto a viver alguns momentos com mais intensidade.
Continuo a apreciar a essencia de amizade e é isso que me rege e seguirei para todo o sempre.

Há momentos indescritiveis, só vivendo...

Aqui continuarei apenas a juntar grãos de areia e  conchinhas que vou colhendo na minha caminhada de pés n`areia...