quinta-feira, 30 de junho de 2016

Anti...

Em dia em que o país pára em frente aos televisores de fundo verde, numa embriaguês cega e desmedida de patriotismo futebolístico, perco-me por um deserto imenso, despovoado. Antipatriota, anti nacionalista ou qualquer outro adjectivo que defina, anti carneirismo, anti social, individualista, apátrida...aqui estou eu!
Apátrida pode ser um pouco forte, mas define bem o desligar das tradições, normas sociais e politicas. O fugir de convenções e dogmas, seguindo uma vontade própria. 
Partir sem pátria, família, ou qualquer outro tipo de ancora e ser o que quero, o que penso, o que entendo por existir.
Ovelha negra?
Talvez!
Recuso gritar golo quando todos se levantam extasiados com um qualquer remate numa baliza. Desconheço regras e tácticas de jogo e qualquer tipo de termo futebolístico... 
Não conheço nomes, e de equipas nem quero saber.
Demonstrações de força, poder, para mim, não passam de rituais primatas que apenas se foram moldando à "evolução", mas a essência continua. 
Falaria agora de tanta coisa em torno destas "batalhas campais", capaz até de tropeçar nas minhas próprias ideias e contrapor-me... A verdade é sou do contra. Anti futebol. e hoje estou sozinha nesta minha luta... 


Sílvia Q. Sanches - junho 2016

terça-feira, 28 de junho de 2016

Bagagem


É nos caminhos da vida que vamos apurando o auto conhecimento, levando de cada etapa a bagagem suficiente para enfrentar a próxima corrida... Nem muito pesada nem leve demais.

Sílvia. Q. Sanches 2013

Ei-la

Ei-la perdida na imensidão dos sonhos,
esquecida de si... da vida...
Ei-la segura de inseguranças,
saudosa de um futuro, esperançosa do um passado
Ei-la enclausurada em normas,
amarrada a suposições.
Ei-la implodindo o ego,
explodindo de passividade...

Sílvia Sanches
Julho 2014


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Never...


Para crescer...



Não basta plantar...

Há que regar..

cuidar...



Sílvia.Q. Sanches -  fevereiro 2015


Raízes...

O meu lugar é aqui.
Enraizada neste mundo, neste espaço...
Rodeada de flores, aves, esquilos...
Umas vezes nua, outras vestida...
Soprada pelo vento, banhada pela chuva...
O sol e a lua...
Os cânticos dos que pousam e voam...
As marcas dos que em mim habitam...
O pólen das que me rodeiam...
Aqui estou.
Daqui não saio.
                     
Sílvia Sanches 2014

Gaiola...

https://eraumavezlaranja.wordpress.com/2013/07/15/foi-costurando-passaros-dentro-de-mim-que-me-tornei-uma-gaiola/



Foi costurando pássaros dentro de mim que me tornei uma gaiola…

 

Foi costurando pássaros dentro de mim que me tornei uma gaiola*imagem: Mariana Palova
foi assim que me tornei óbvio
choquei um ovo
e dele nasceu minha tristeza.
Foi despedindo das flores
que me tornei um vaso,
foi assim que me tornei imóvel
gote-ei-me, enferrujei, desconstruí
e senti saudades de amar.
Foi antecipando a vida
que aprendi a morrer
foi assim que me tornei um sonho
sonhei, cai e levantei
olhei em volta e estava distante de mim
Foi sorrindo simpaticamente
que me tornei um molde
foi assim que me tornei um porco-da-índia
apaixonei-me por um poeta e me dei descarga
na terceira margem de um poema.
Pablo Rezende

Desapego


Espirito livre


Os espíritos livres não são totalmente livres.
Liberdade total não existe.
Tropeça-se sempre nos grilhões da moral, da sociedade, do bom senso...



Sílvia Q. Sanches - Abril 2015



O primeiro dia de muitos primeiros últimos dias



"Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida..."assim diz a canção. 
O primeiro de muitos ou poucos nem se sabe. 
Cada dia é um dia. 
Mais um de tantos já vividos e muitos mais sobrevividos. 
Uma vida a saber a pouco, quase nada cheia de nada.

Sílvia. Q. Sanches -Julho 2015


quinta-feira, 23 de junho de 2016

Conquistas


A vida faz-se de conquistas, sem elas nada teria sentido…

A primeira conquista é a concepção, depois o nascimento, o primeiro choro (grito de liberdade), o primeiro sorriso, o primeiro passo, primeiro dente, o primeiro amigo, o primeiro dia de escola, o primeiro amor, terminar a escola, o primeiro emprego, o casamento, os filhos, uma vida boa, enfim todas as pequenas coisas são as nossas conquistas.

Há quem procure mais…

Espírito de conquista, naturalmente português!

Mas, as verdadeiras conquistas são as que se fazem interiormente, quando de um problema retiramos o que de bom ele nos trouxe e esquecemos o que não interessa.

Conquistar é olhar em volta e saber ser feliz com o que nos rodeia, não sofrer pelo que não se tem.

Grande conquista é conhecer-nos a nós próprios para depois conhecer os outros.

A maior conquista é saber viver!

Portugal é um país de conquistadores e como tal eu sou mais uma no meio de tantos outros tugas.

Gosto de conquistar!

Silvia.Q. Sanches 2014

Soneto da Lua





Por que tens, por que tens olhos escuros

E mãos lânguidas, loucas, e sem fim

Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim

Impuro, como o bem que está nos puros ?



Que paixão fez-te os lábios tão maduros

Num rosto como o teu criança assim

Quem te criou tão boa para o ruim

E tão fatal para os meus versos duros?



Fugaz, com que direito tens-me pressa

A alma, que por ti soluça nua

E não és Tatiana e nem Teresa:



E és tão pouco a mulher que anda na rua

Vagabunda, patética e indefesa

Ó minha branca e pequenina lua!



Vinicius de Moraes

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Em frente...

Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.
Tento alcançar isso todos os dias abstraindo-me das mesquinhices, de que tanto se ocupam varias pessoas. Prefiro ser distraída e viver de bem com o mundo do que demasiado atenta e viver a lamentar o mais insignificante dos problemas.
Peço apenas ao cosmos a energia certa para seguir o meu caminho com paz e amor junto de todos que me querem bem, porque eu quero bem a todos.

Sílvia Q. Sanches - Junho 2012

Palhaços

Adoro Carnaval! Sempre adorei. Vivo o ano inteiro a projectar fantasias de Carnaval, tudo que vejo fora do comum digo logo que pode ser uma ideia boa para uma mascara. Enfim cada maluco sua mania, eu vivo a tara do Carnaval, a quem tenha taras piores!
Já vivi imensas personagens, (sim vivi, porque eu quando me mascaro é a valer, encarno o personagem que estou a vestir), mas a personagem que me diverte mais e com que me sinto à vontade é o palhaço. Já representei vários palhaços, ricos, pobres, tristes, trapalhões, criativos, fantasiosos, só de palhaço tenho uns quantos fatos.
Eu vibro com toda a fantasia do Carnaval e quem me conhece sabe bem do que estou a falar, acho que volto a ser uma menina vivo esses 3 dias e 4 noites em autentica euforia, fico doente se não posso aproveitar esses momentos.
Mas os palhaços...
De palhaço sinto-me livre, digo o que me apetece e ninguém leva a mal, até acham piada! Eu brinco, danço, rio e não sei, mas parece que acordo toda a alegria que existe dentro de mim, mas com o fato vestido e a cara pintada! É que palhaços somos todos, uns mais que outros e também há quem queira fazer de nós palhaços mas isso dispenso. Só sou palhaça quando me apetece e para me divertir, os palhaços do circo é que se vestem para divertir os outros, às vezes sabe-se lá com que vontade, coitados. E o público diverte-se muito, fica muito bem-disposto mas depois vai-se embora e o palhaço fica ali, sozinho. O público até pode voltar porque gostou do espectáculo, pode até ter saudades do que viu, mas não sabe nada do palhaço. Se está feliz, se triste, como vive ou se sente. Ele é que tem de preocupar-se em divertir os outros mas ninguém pensa em diverti-lo a ele.
É triste ser-se palhaço! Especialmente no circo da vida! No Carnaval é-se palhaço porque se quer, e isso é bom! Eu adoro!
Não me queiram é fazer de palhaça!

Sílvia Q. Sanches - Janeiro 2010

Golfe & Caldo Verde

Li, recentemente numa revista:" Golfe português no top mundial. "Portugal é um dos melhores destinos mundiais de golfe", refere o gotravelinsurance.co.uk. Citando a Association of Independent Tour Operators (Aito), o site afirma: " O Algarve tem uma das maiores concentrações de campos de alta qualidade da Europa".


Aconselha-se uma visita aos campos do Estoril e Sintra."



Oh meus amigos!... Isto é um gozo à malta! Esta bem que temos de nos virar para o turismo.

Mas para quê o golfe?

Para quê campos relvados a perder de vista se nem as cabrinhas lá podem pastar sujeitas a levar com uma bolada nos "cornos".

Ponham mas é essa malta dos tacos com uma enxada na mão a fazer algo de positivo pela crise mundial na agricultura.

Se continuam a fazer campos de golfe desta maneira, e os campos de cultivo cada vez menos trabalhados qualquer dia temos mesmo de comer a relva cortadinha dos campos de golfe.

E olhem que já será muito bom, sempre passa bem por caldo verde!


Sílvia Q. Sanches - Março 2011



Limpeza das praias

É impressionante a quantidade de lixo que dá a costa. Plásticos, então, são cerca de 90% do lixo que se acumula na areia.
Enquanto apanhamos algum desse lixo fazemos também exercício físico além de contribuir com 0,000001% na limpeza da praia, mas 200% na limpeza de espírito.
Uma caminhada pela praia pode ser agradável e ao mesmo tempo produtiva. Além de se respirar o ar do mar, ao caminhar sobre a areia, podemos fazer algum exercício ao apanhar pequenas tampinhas de plástico que dão à costa, tal como se apanharia uma conchinha... Encher um saco de pequenos pedaços de plástico poderá contribuir para a felicidade de alguém e ajudará, ainda que muito pouco, a evitar o lixo no fundo do mar e nas praias.
Faça o mesmo, nem que seja uma vez, vamos ajudar-nos, ajudando! 
Influenciem amigos e familiares!


Silvia.Q.Sanches - Março 2014


terça-feira, 14 de junho de 2016

Sair de cena

A longa metragem, tipicamente portuguesa, corre o risco de se tornar uma infinita metragem com cenas demasiadamente longas e falas à medida do curto orçamento. 
A monótona e sensaborona história pode até ser considerada uma obra de arte. 
Alguns aplaudem, outros copiam... há até quem inveje o que julga ver. 
Na verdade,  ninguém assiste à totalidade do filme. 
Tornou-se socialmente correto apreciar historias longas, cada vez mais raras. 
O que escasseia torna-se valioso aos olhos da sociedade, mesmo que a historia seja incompreensível.
As expectativas elevam-se, o realizador perde a imaginação, ao guionista faltam as palavras e o elenco perde a cumplicidade.
A película não comporta muito mais e há que acabar com a história. 
O dilema é como acabar.
Queima-se viva a protagonista, desvendando-lhe os actos de bruxaria?
Envia-la para o desterro, deserdada de todo e todos?
Morrerá heroicamente numa batalha campal ou partirá numa fuga inglória, desaparecendo na neblina para todo o sempre? 
O publico já dorme aguardando um final um final feliz, mas há que chocar, marcar pela diferença e sair de cena sem perder o protagonismo.


Sílvia Q. Sanches - Março 2015


Mundo louco

Vivemos numa época de extremos. Do tudo ou nada....
Somos cada vez mais independentes, desligados.
A evolução tem-nos tornado nisto.
Na pré historia vivíamos em grandes grupos. Um instinto de primatas que nos mantinha em segurança e dava continuidade à espécie.
Ao longo da historia da humanidade fomos alterando os hábitos, mudando de necessidades...
De grupos grandes passaram a haver famílias...de grandes casas de família, degeneraram outras pequenas famílias... os casais com pouco mais de dois filhos... os casais com um filho... os casais com um cão ou um gato... o mono-parlamentarismo... a opção de ficar só...
Ser só por vezes parece ser a mais sábia das opções embora se tenha uma visão "da família" ainda muito vincada em cada um de nós e na sociedade em geral.
A evolução tem-nos tornado seres únicos e se "ninguém é de ninguém" para quê o sentido de posse, o sentido de "família"?
Para quê ser-se responsável por pessoas que se tornaram tóxicas na nossa vida?
Cada um evolui por si mesmo, em cada uma das suas próprias vivências, interpretando a vida da sua própria forma.
Para quê seguir grupos, lideres, famílias, normas?...
Nem todos evoluíram da mesma forma, bem sei.
A sociedade em geral retrocedeu. Manifesta-se em grandes grupos embriagados de futebol, religião, politica... influenciados pelos media, pelo "desporto", pelos reality show, pelo dinheiro, acima de tudo pelo poder!
O poder de alguém que pensa por si mesmo e que sozinho influencia uma sociedade com instintos primatas.


Sílvia.Q.Sanches - Maio 2016
  

Aquilo a que damos valor


Fausto - "Atrás dos tempos outros tempos vêm" do disco "Madrugada dos Tr...

Com Papas e Golos se entretém os tolos

Voltámos a épocas passadas. Épocas em que se mantinha o povo distraído com futebol, fado e religião para enganar a fome e mascarar a miséria em que se vivia. Nada tenho contra a religião, respeito a convicção de cada um assim como gosto que respeitem a minha. O que me entristece é que com tanta evolução a fórmula é exactamente a mesma, um bocadinho mais refinada mas exactamente a mesma.

Enquanto o povinho tem estado ocupado a olhar para o Papa, com direito a “feriado” em vários sectores, vão metendo a mão no bolso de quem menos ganha. Sim, porque não são os grandes gestores e classe politica, que contribuíram maioritariamente para o estado em que se encontra a nossa economia, que vão sentir o aperto do cinto… O povinho que não sabe mais do que trabalhar e pagar para poder trabalhar é que continua a pagar, pagar, pagar…

Bem isto parece um discurso de esquerda, podia até ser, mas tal como na religião não gosto de tomar partidos, trata-se simplesmente de um lamento de quem se sente cada vez mais espezinhado pelo sistema. É triste a forma como a classe que mais produz é tratada. Mas vai-se embebedando a populaça que esquece depressa e até as calças baixa se for preciso.

O povinho entretido com o Papa e os festejos de Fátima não percebe que se gastou 750 milhões de Euros para receber o velho homem. Grandeza tal que até faz corar alguém um pouco mais atento, não sei se de raiva se desespero ou mesmo vergonha, quando se vem a saber que no final do ano os subsídios de Natal estarão comprometidos com um corte significativo como contributo no combate a crise, que o I.V.A vai aumentar sujeitando a subida dos bens alimentares e medicamentos, que o I.R.S aumenta e com menos benefícios, que os ordenados estão congelados por tempo indeterminado, que os combustíveis aumentam mesmo com o petróleo a baixar, e muito mais… Mas pior ainda é quando se sabe que o país vai ajudar a irmã Grécia e que para tal vai ter de pedir dinheiro emprestado, isto então é de gritos.

De gritos é também o facto de assistir a uma euforia exacerbada com o futebol e as vitórias de um qualquer clube e o desinteresse pelo estado em que nos encontramos. Temo que se deslocam mais pessoas aos estádios e/ou a locais onde transmitem o futebol do que as mesas de voto nas ultimas eleições.

É triste ver que o povinho se vai deixando levar pela maré e que mesmo a avizinhar-se a tempestade do século, continua impávido e sereno brincando nas ondas, cada vez mais altas, com ou sem prancha, como se nada estivesse em perigo.

A embriaguez do futebol é tamanha que o resto passa despercebido e o povo fica feliz…

Enfim, Roma antiga dava circo e pão ao seu povo, nós temos Papa e Golos!

É uma alegria!

Sílvia Q. Sanches - Maio 2010

Ser Tuga

SER PORTUGUÊS É:


Levar arroz de frango para a praia.

Guardar as cuecas velhas para polir o carro.

Lavar o carro na rua, ao domingo.

Ter pelo menos duas camisas traficadas da Lacoste e da Tommy (de cor amarelo-canário e azul-cueca).

Passar o domingo no shopping.

Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou com a tampa da esferográfica.

Ter bigode.

Viajar pró cu de Judas e encontrar outro Tuga no restaurante.

Receber visitas e mostrar a casa toda.

Enfeitar as estantes da sala com os presentes do casamento.

Exigir que lhe chamem 'Doutor'.

Exigir que o tratem por Sr. Engenheiro.

Axaxinar o Portuguex ao eskrever.

Gastar 50 mil euros no Mercedes C220 cdi, mas não comprar o kit mãos-livres, porque 'é caro'.

Já ter 'ido à bruxa'.

Filhos baptizados e de catecismo na mão, mas nunca pôr os pés na igreja.

Não ser racista, mas abrir uma excepção com os ciganos.

Ir de carro para todo o lado, aconteça o que acontecer, e pelo menos, a 500 metros de casa.

Conduzir sempre pela faixa da esquerda da auto-estrada (a da direita é para os camiões).

Cometer 3 infracções ao código da estrada, por quilómetro percorrido!!!

Ter três telemóveis.

Gastar uma fortuna no telemóvel mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista.

Ir à bola, comprar o bilhete 'prá-geral' e saltar 'prá-central'.

Viver em casa dos pais até aos 30 anos ou mais.

Ser mal atendido num serviço, ficar lixado da vida, mas não reclamar por escrito 'porque não se quer aborrecer'.

Falar mal do Governo eleito e esquecer-se que votou nele.

Pendurar a Bandeira Portuguesa na janela enquanto decorre o Euro e, logo a seguir a acabar, tira-la logo porque "é foleiro"


Viva Portugal, carago...

Sábias Palavras

Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo ao chão, apodrecidos.

                                                Eugénio de Andrade

Teatro da vida


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche"

CHAPLIN

Fausto: Rosalinda; Peniche, Portugal, 1976


A central nuclear não avançou. Que bom!
Floresceu um empreendimento de luxo com campos de golfe.
Outra forma de toxicidade...
Preservou-se o mar, alterou-se a paisagem, encheram-se carteiras e ocupam-se uns quantos ex pescadores.
A Rosalinda cresceu, formou-se, emigrou e casou com um inglês.
Veio de férias ver o mar...
aprender a surfar!

Sílvia. Q. Sanches  - Agosto 2014

Caminhos



A Insónia, hoje, resolveu fazer-me companhia. trouxe a vontade com ela.
Estivemos a ver um filme que eu guardava à uns tempos... fizemos um pacto... eu e a vontade, faremos o caminho juntas. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O estranho caso do Ser e do Ter



Unidos à nascença. Amigos inseparáveis.
Ser, filho pródigo de boas famílias, amado e super protegido, porém inseguro, medroso, libertino e mal entendido pela sociedade. 
Ter, quase nado morto, reanimado ao ultimo momento, de condição humilde, habituado a transformar fraquezas em forças, conquistador de pequenas batalhas, bem aceite socialmente.
Não vivem um sem o outro. Embora discordem frequentemente.  
Não sabem é que ocupam os lugares errados.
Ser, mais forte do que se julga, porém diminuído pelas normas sociais criadas por outros Teres, influencia, no entanto, Ter a tornar-se forte. Tão forte que o próprio Ser se esquece de si mesmo e do que o move. 
Ter, mesmo sabendo que se pode sucumbir a qualquer momento, sente-se forte. Suas conquistas tornam-no forte e bem visto aos olhos alheios. Mas sem Ser, Ter não é ninguém e não pode viver muito tempo.
Ser, com tempo, pode ganhar confiança e continuar a ajudar Ter, numa união sadia, será só uma questão de equilíbrio.
Ter terá de ceder. E Ser terá de se impor.

Sílvia Q. Sanches, jan 2016.
                                                                                                                                                                Imagem retirada da Net

Estar ou não estar... eis a questão!


Quando se chega a uma idade em que já pouco mais há para descobrir do mundo que se conhece. Quando já nem há paciência para apreciar os pequenos pormenores caindo-se no isolamento...talvez do próprio conhecimento. No egocentrismo, por assim dizer!...

E egocentrismo não tem que ser propriamente conotado com algo de negativo. O auto conhecimento é necessário, e uma pitada de egoísmo faz parte da lista de condimentos para um bom cozinhado pessoal.

Viver a vida a agradar os outros,  mostrando que se é valente, capaz de ultrapassar obstáculos, resolvendo os problemas alheios e sem conseguir alcançar o sentimento mais profundo de si mesmo é triste. É morrer aos poucos.
É como viver numa casca, num casulo, sem nunca desabrochar. 

Há momentos para tudo e que por mais perfeccionismo possa haver, há sempre algo que pode correr mal. O inesperado!

E o castelo de cartas desmorona-se...

Seria maravilhoso um mundo perfeito.
Mas a perfeição não existe e o entendimento é utópico.

Sílvia Q. Sanches - Nov 2015

imagem retirada da Net

Conversar

Na verdade não falamos com os outros.
Falamos sim, com nós próprios.
Em contrapartida ouvir o próximo é ouvir a própria consciência.
Conversar, portanto é uma forma de auto-conhecimento.
E há sempre tanto por descobrir!

Sílvia Q. Sanches  - Jan 2016
                                                                                                                                                     imagem retirada da Net

Evolução?...

Li um artigo que me despertou para o que se pode chamar a "EVOLUÇÃO" do amor.
Diz a musica que "Já não há canções de amor como havia antigamente..."
É verdade que vivemos na época das selfies, do mostrar no facebook o quão "feliz" se está, do "auto conhecimento" e do desapego. Tal é moda que o verdadeiro sentido de cada uma dessas coisas deixa de ser real. 
Vivemos permanentemente numa montra. As relações tornam-se descartáveis. E se num dia o amor sai pelos poros, converte-se, vertiginosamente, em ódio ou desprezo, à primeira contrariedade.
Ou se ama ou já não se ama. Quase ninguém deseja a felicidade do outro. Pensa-se que desejar a felicidade do outro é incompatível com o alcance da nossa própria felicidade. O egocentrismo cego prolifera por aí e os valores da amizade e do amor ao próximo vão ficando cada vez mais ténues. 
Assusta cada vez mais a capacidade humana de converter amor em ódio, o querer bem em desprezo, o apego em maldizer. As fotos românticas são substituídas por indirectas ácidas, e as declarações de amor por palavras amargas e cheias de mágoa.
Os poemas de amor passaram à historia, tornaram-se "pirosos"... mas na verdade, todos ansiamos viver essas histórias procurando as primaveras incessantemente sem querer passar pelas outras estações tão ou mais importantes. 
A Fruta de cada época deve ser comida no momento certo. E a tendência é a produção em estufa e garantir doçura ainda que sinteticamente. 
Esta é a tendência!
Será isto a evolução?
É para isto que cá andamos? 



Silvia.Q.Sanches - Abril 2016 

Teorias

A vida é uma duvida constante.
Acreditamos ou guia-mo-nos por teorias de outros cujas duvidas os levaram a pensar.
Nada é certo.
São apenas teorias. 
Desde a formação do Universo cujas teorias são tantas à evolução das Espécies...
Faz parte do ser humano, o querer saber, descobrir... E é verdade que temos descoberto tanto através da partilha de informação e troca de ideias.
Formaram-se correntes, linhas de pensamento e cada um segue aquela com que se identifica.  
Reais ao não, são as bases onde nos vamos sustentando e formando cada ser, cada um diferente de qualquer outro. Somos unos. Matrizes cujos moldes nunca serão utilizados. 
Ainda que sejamos clonados, nem mesmo esses clones pensarão da mesma forma que nós. Cada ser é um só, com as suas próprias duvidas, as suas certezas,as suas teorias! 


Sílvia.Q.Sanches - Abril 2016

sábado, 11 de junho de 2016

Farol


Era uma vez um farol que vivia muito feliz na ponta de um cabo. Com o seu faroleiro fazia uma bela dupla. O belo e majestoso farol iluminava com a sua luz tudo o que o rodeava ajudando os barcos a não embaterem naquela costa e a orientarem-se no seu caminho. Sentia-se importante auxiliando os outros nos seus caminhos. Tinha o seu faroleiro, que dele cuidava, o mantinha funcional e sempre grandioso. 
O faroleiro amava o seu farol e nunca o abandonava por nada, conhecia-lhe todos os pontos, percorria todos os seus degraus, de olhos fechados. se preciso fosse. Mesmo que aquela escalada diária lhe custasse, ele não desistia da sua vida de faroleiro.
Um dia o o belo e majestoso farol, durante a  sua empreitada nocturna, iluminando aquele pequeno mundo a sua volta, num olhar zeloso mas triste da sua tarefa algo solitária, sentiu-se encandeado. 
Sim encandeado! 
 A sua luz cruzava-se com a de outro farol, nunca tinha acontecido cruzarem-se assim. 
Chegara a julgar-se único e  não fazia ideia que havia mais faróis como ele. 
O faroleiro nunca lho dissera!
O outro farol, que vivia numa pequena ilhota, também se surpreendeu com aquela troca de focos. Estava triste. 
O seu faroleiro tinha-o abandonado e ele sentia-se desamparado. Mas tinha de continuar a sua tarefa iluminando o mundo que o rodeava. 
Ao ver que afinal havia mais faróis como ele sentiu-se estranhamente feliz.
Desde essa noite que os dois faróis passaram a desejar cruzar as suas luzes. 
Dos seus pontos de vigia, conscientes das suas funções, contemplavam-se ao longe, a cada cruzar de feixes de luz.
Passaram muitos Natais, sofisticaram-se os instrumentos náuticos e os faróis quase se tornaram elementos decorativos, míticos, mas sempre em funções. Cada vez mais automatizados dispensando os faroleiros sempre nas  suas grandiosas funções, iluminam o escuro da noite tal como uma árvore de natal ilumina o regresso a casa.




Sílvia.Q. Sanches 2008

Capuchinho Vermelho



O capuchinho vermelho, a própria avozinha...

O lobo não era mau...

Foi seduzido pela leveza daquela mulher que se sentia menina.

A capa vermelha dos tempos de adolescente, alegrava seu rosto.

Caminhava pelo bosque saboreando o cheiro da terra, o chilrear dos pássaros, as flores...

Amava a vida e o que a rodeava.

Não tolerava injustiças e lutava sempre pelos menos favorecidos.

Ao ver o lobo, ali sozinho, indefeso, afagou-lhe o pelo ofereceu-lhe um biscoito, e sentaram-se a venerar a floresta.

Conversaram horas sem fim...

Assunto nunca lhes faltou.

O lobo aquecia a avozinha e ela sentia-se menina.  Acarinhava-o, ouvindo suas historias.

Sentiam-se bem juntos, completavam-se...

A amizade cresceu tanto que na aldeia todos se intrigavam.

Que tanto tinham aqueles dois para conversar?

Não entendiam que uma velha mulher se podia sentir jovem e que um lobo podia ser bom.

Não aceitavam a amizade pura daqueles dois.

Diagnosticaram demência à mulher internando-a num lar.

Ao lobo, caçaram-no e fecharam-no num centro de recuperação do lobo ibérico.

Ele integrou-se com os seus companheiros de cativeiro. Sente-se acolhido pela nova alcateia.

A avozinha, cada vez mais alheada da vida, guarda ainda a capa vermelha na sua caixa de memórias. Sente-se a ovelha negra do seu rebanho.

Na aldeia contam a velha historia do capuchinho vermelho saltando a parte das crianças visitarem os avós, dando ênfase ao velho medo dos lobos.




Sílvia Sanches 2015



sexta-feira, 10 de junho de 2016

As Laranjas da "Ti Estrudes"


Algumas das memórias mais vincadas da minha infância, estão ligadas a uma tia carismática que vivia em Santarém. Gertrudes de seu nome, mais conhecida por "Ti Estrudes".
Vivi a infância convencida de que "Tiestrudes" era um nome próprio, de tal forma que sempre me dirigia ou referia a ela, dizia: - A tia "Tiestrudes", a tia das laranjas!!!!
Casa de campo modesta, construída pelo marido, avarento, que de simpatia e bondade nada devia ao divino, paredes finas e chão de cimento colorido, uma casa de banho sem banheira, outrora exterior, ligada à casa por uma sala de estar acrescentada ao longo dos anos, onde a família  se juntava. Todos se atropelavam para se sentar no velho banco de camião, o único e "sofisticadissimo" sofá de couro que existia na casa, bem ao lado da chaminé de chão onde existia um fogão de lenha em esmalte branco.
No fogão que aquecia a casa, fervia uma panela de ferro onde a "Tiestrudes" ia acrescentando os ingredientes secretos de uma sopa mágica da qual ainda guardo o sabor mas não mais saboreei.
A pandega tia, baixa e redondinha com a sua longa trança preta em carrapito, artisticamente enfeitado com ganchos de tartaruga, recebia como ninguém entre anedotas, graçolas, credos, "traques" disfarçados com o arrojar de bancos e histórias de família. Qual a fada madrinha da Cinderela, cheia de truques e magia, qual bruxinha do bem, cuja casa de cantos e recantos escondia tantos mistérios.
O relógio de cuco tocava todas a horas, compassadas pelo tique-taque constante, marcando o tempo interminável que se vivia naquele autentico local de culto.
Obrigatória era a visita ao quarto dos santinhos onde existia uma grande cómoda cujo altar com a Nossa Sra era rodeado de um grande presépio de santos de todas as "qualidades" e fotografias de todos os sobrinhos, irmãos, amigos e conhecidos.
A "Tiestrudes" era conhecida pelos seu dotes curandeiros e rezava todos os dias os seus santinhos pelo bem de todos que lhe pediam ajuda. O cheiro azeite que emanava das lamparinas e das tijelas meias de água onde observava, através de gotas de azeite, se a vida de cada um corria bem ou não.
O momento alto passava pela ligação da santinha à tomada exterior da velha instalação eléctrica, acendendo as luzes coloridas e o som agudo da musica dos pastorinhos.
A hora de dormir era um acontecimento. Um abrir e fechar de gavetas e baús de onde surgiam lençois de linho e cobertores de "papa" que picavam. As camas, mais estreitas do que eu estava habituada a ver em minha casa, eram feitas com todo esmero num ritual do bem receber tão típico da amorosa tia.
Dormir num quarto de anexo era sempre uma aventura. Especialmente pela madrugada, quando se acordava aos primeiros raios de sol com o galo e os melros como despertador.
O cheiro das laranjeiras que cobriam o alpendre, entrava pela janela de vidros martelados encaixados numa quadricula de ferro pintada de verde.
 As laranjas da "Tiestrudes" eram especiais. Apanhava-se um cesto delas, grandes, sujas de um pó preto que nos mascarrava.
Eram escolhidas uma a uma de preferência com filhos porque a "menina" gostava!
À refeição a minha mãe num toque de magia cortava da casca da laranja uns óculos que eu ostentava divertidamente.
Há memórias que ficam, pelos os sentidos que estimulam.
O cheiro inesquecível das laranjas, o calor do fogão de lenha, no sofá feito de banco de camião,
olhando o mundo através dos óculos cortados da casca da laranja, ao som do crepitar do lume... são das memórias que não mais esqueço.
Onde quer que esteja, provavelmente ao lado dos seus santinhos,  sei que a saudosa "Tiesturdes" continua, com a sua mão no peito e a sua gargalhada tão envolvente.
"Avé laranjas da Tiestrudes"!



Sílvia. Q. Sanches 29 Maio 2016 



A Lenda Do Anel De Brilhantes



Vou contar uma das peripécias do meu tio porreiraço. Um autentico cool man de quem muitos gostavam, poucos não. Um filosofo capaz de fazer as delicias de quem o ouvia.
Como sabem, na Foz do Arelho, quando à maré vazia, é só ver gentinha de rabo pró ar a apanhar berbigão. É já uma tradição para muitas famílias, ir à Foz apanhar uma insolação na apanha de uns quilitos de marisco para poupar uns trocos. Já para não falar da apanha ilegal em épocas em que está fechada a apanha por razoes de saúde pública, devido a febres que estes bivalves desenvolvem. Mas o pessoal não liga.  Até é giro depois comer aquilo tudo,  parar no hospital com uma valente diarreia.
Mas naquele tempo que não havia nada dessas maleitas e era tudo fresquinho, fresquinho!
Era ver ainda mais gentinha ali de rabinho para o ar. Tinha dias que era mais gente que berbigão, ou até de grãos de areia.
Ora claro que só os nativos da região e outros tantos tugas,  é que sabiam o propósito daquelas romarias. Os estrangeiritos, coitaditos, não percebiam nada do que se passava ali e perguntavam, claro que ao meu tio, o único poliglota do pedaço, o que fazia toda aquela gente de rabo para o ar ali na água?
Ele, que não se contentava em dar uma explicação simplista da coisa, contava-lhes sempre uma história que lhe vinha a cabeça e um dia nasceu a lenda do anel de brilhantes que pegou e passou a história oficial para estrangeiros.

"A muitos, muitos séculos, ainda a península ibérica pertencia aos mouros, vivia em Óbidos uma bela princesa moura que costumava cavalgar com o seu belo cavalo árabe no areal onde hoje é água. Sim, a lagoa não existia, era um extenso areal que lembrava a princesa o seu deserto que havia deixado ao acompanhar seu pai, um sultão muito poderoso e rico, o rei dos sultões!
Um dia a bela princesa enamorou-se de um belo príncipe filho de outro rei, rival do grande sultão.
Era um amor lindo mas proibido pelos pais. Mas o casal arranjava sempre forma de se ver e um dia trocaram de anéis como que a selar o seu grande amor.
A princesa deu ao príncipe um anel de safiras e o príncipe um lindo anel de brilhantes à sua amada.
Certo dia, a princesa cavalgando no seu cavalo, deixou cair o anel e sentiu uma dor no peito muito forte. O seu príncipe tinha partido para a guerra e ela sentira como que um corte ao deixar cair o anel que ficou perdido no areal.
A princesa sentiu que o seu príncipe tinha partido para o além!
Desde aí passou a procurar o seu anel de brilhantes por aquele areal fora enquanto chorava e tanto chorou que se formou a lagoa de Óbidos. O anel nunca foi encontrado, e ao longo dos séculos cada vez mais são as pessoas que o procuram para o entregar a princesa que ainda chora a morte do seu bem-amado. "

Esta foi a história que me habituei a ouvir, com mais ou menos pormenores, contar aos estrangeiros que iam por ali passando.
Genial, não?!

Silvia Sanches 2008

Mexilhões da Foz



Um dos meus tios maternos, homem muito comunicativo e dado a línguas e culturas estrangeiras, fazia novas amizades muito facilmente com qualquer estrangeiro que lhe aparecesse no bar da praia, negócio da família nessa altura. Eu sempre venerei este tio, era como que o porta-chaves dele, acompanhava-o para todo o lado (possível claro) e seguia-lhe todas as passadas. Eu era a menina do tio e ele era o tio porreiraço que qualquer sobrinho gostaria de ter.
Ele era o maior desenrasca que conheci, nunca o vi atrapalhado com nada, sempre com soluções para tudo, mas nada programado. Fazia sempre tudo em cima do joelho, mas corria sempre bem! Quase tudo! Quase sempre!
Ora o bar situava-se junto ao velho cais da praia da Foz do Arelho e nessa época a agua da lagoa era tão límpida que se via todo o fundo bem como tudo que estivesse dentro dela.
Não se falava em poluição. Não se sabia o que era isso!
Os estrangeiros ficavam fascinados com a beleza bruta da Foz. Tudo era puro, até o povo de lá. (mas adiante)
Uma das especialidades confeccionadas no bar era o mexilhão aberto ao natural acabadinho de apanhar! Verdade, verdadinha!
Sempre que era pedida uma dose de mexilhão, soava a voz de alguém:
- Sai uma dose de mexilhão!!!
Lá ia o meu tio aos pilares do cais arrancar mais uns cachos do afamado mexilhão, fresquinho, fresquinho, que confeccionado pela minha avó, uma cozinheira de mão cheia, estimulava as papilas gustativas de qualquer um.
Os clientes adoravam e os estrangeiros então deliravam com toda esta naturalidade com que se faziam as coisas.



Sílvia Q. Sanches 2010










A marmelada

Sabores de infância


A chegada da primavera transporta-me à minha infância, à felicidade da simplicidade do dia-a-dia de uma criança, dos dias enormes em que, até os rebuçados tinham outro sabor, a marmelada … então nem se fala.

Vejo a minha avó a dar-me uma moeda de vinte e cinco tostões para eu ir buscar marmelada ao Sr. Madeira, mercearia e retrosaria gerida por pai e filhos solteirões muito aprumadinhos e atenciosos.

Todo aquele ambiente, o grande balcão, os armários de madeira com grandes portas de madeira até ao tecto, os frascos cheios de chupa-chupas, os chocolates Regina, na vitrina por detrás do balcão, a maquina registadora com tantos botões como rebuçados dentro dos frascos, o cheiro do colorau vendido a peso e colocado naqueles pacotinhos de papel parecidos com rissóis e aqueles homens, autênticos autómatos silenciosos no seu trabalho, formigas zelosas do seu dever, de bata castanha e postura aprumada.
Encosto-me ao topo do grande balcão de mármore aguardando a minha vez, observando a azáfama daqueles três.  Lá passa o Sr. Chico, embora mais alto o filho mais novo do merceeiro, piscando-me o olho como que a dizer que já me atende e a adivinhando ao que vou.

Chegada a minha vez, vendo-me olhar fixamente o tabuleiro castanho coberto de celofane, o Sr. Chico com a mesma delicadeza com que atende as Sras. mais velhas de sorriso ao canto da boca, nem precisa de perguntar o que desejo, limita-se a pegar naquele tabuleiro valiosíssimo e com uma espátula de madeira corta delicadamente um cubo daquela preciosidade embrulhando com todo o requinte em papel vegetal. Pesa-o na enorme balança colocando noutro embrulho de papel manteiga. Seus dedos mestres em embrulhos, executam-no tão rapidamente como um mágico faz desabrochar uma flor de trás da orelha de alguém.

Levo aquele cubinho celestial e chegando a casa da avó nem espero pela fatia do pão, trinco-o como se de um bolo se tratasse.

Huummm… ainda sinto aquele sabor…

O autentico gostinho dos sabores da infância que nunca mais se esquecem.


" Eu sou pequenina,
Não sei fazer nada
Sei ir à cozinha
Comer marmelada"

Sílvia. Q. Sanches 2010

Peixinhos da sorte!

O meu avô materno vem de uma família numerosa. Eram muitos irmãos. Nem sei bem quantos. Devidas as dificuldades da vida, cedo se separaram e cada um tentou a sua sorte em sítios diferentes. Uns em Alhandra, outros no Montijo, outros em V. F. Xira, aqui em Caldas, enfim de Alenquer para muitos sítios diferentes, até para Inglaterra! E um dos irmãos, o mais carismático que conheci, correu vários lugares com a sua,também grande, família desde a Marinha Grande até Lisboa, onde se instalou numa encosta na zona do Areeiro e por lá construiu a sua alegre casinha com tijolos encontrados por aí, tábuas, folhas de zinco e tal... Bem ao jeito de um filme do Fellini!


Bem, este tio, vivia do seu negócio, alias, de vários negócios. Toda a família tem espírito de negócio e todos alma de inventor. Muito imaginativos. Uns para a fotografia outros noutras artes de viver. O meu avô, por exemplo, construiu a sua primeira maquina fotográfica a la minute bem como muitas outras coisas como decores para a fotografia e mais recentemente para outro negócio com que se entretém agora, as redes. A maioria dedicou-se a fotografia. Esse irmão, o tio António, o mais velho de todos, que não era muito dado as artes, tinha mais jeito para os animais e instalou a sua banca em pleno Martim Moniz ao lado do Hotel Mundial a 20mt de uma grande loja de animais. Vendia passarinhos que criava no seu "palácio" do Arieiro e outros que apanhava nas zonas verdes que ainda existiam em Lisboa.

Um dia, e porque o negócio florescia, resolveu alargá-lo e dedicar-se também aos peixinhos. Começou por vender uns pequenos peixes que os filhos apanhavam nos charcos em terrenos baldios perto do "palácio", aos quais resolveu baptizar de peixinhos da sorte. Eh, eh, Sorte, para ele que ficava com o dinheiro e azar de quem comprava.

- Olha os peixinhos da sorte! – Apregoava ele.

Esses pequenos peixinhos eram pura e simplesmente girinos!

Quando recebia reclamações de que o peixe se tinha transformado em rã ele respondia com o ar mais  ingénuo que conseguia simular:

- Vejam bem como é que a rã foi comer o seu peixinho da sorte, isto há coisa que nem lembra ao diabo, heim!

Pois o diabo junto a este meu tio teria mesmo muito que aprender! Eh, eh, eh!

Que família!

Silvia Q. Sanches 2009

terça-feira, 7 de junho de 2016

A vida continua



Há dias tristes, que não se gosta de nada, de ninguém. 
Nem do próprio ser. 
Coloca-se em causa a própria existência, e a forma como se vive.
Há dias em que o mundo desaba e todas as luzes se apagam. 
Dias de autentica solidão.
Mas ninguém está só!
Existe sempre alguém com situações idênticas e "Qui sait" piores.
Então, é nesse momento que se começa a vislumbrar uma luzinha.
Olha-se para uma criança na rua e sorri-se.
Aquela nuvem que passa, que gira, até parece uma girafa!
Passa aquela música na rádio que já não se ouvia há séculos. (Velhos tempos!)
Passa-se por um campo repleto de margaridas (que bela foto se tirava!).
Admira-se a imensidão do mar.
O abraço de um filho num chegar a casa…
Retomam-se forças.
Levanta-se a cabeça.
Enche-se o peito de ar.
As luzes acendem-se.
Segue-se em frente.
A vida continua…

Sílvia Q. Sanches 2009