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sábado, 11 de junho de 2016

Farol


Era uma vez um farol que vivia muito feliz na ponta de um cabo. Com o seu faroleiro fazia uma bela dupla. O belo e majestoso farol iluminava com a sua luz tudo o que o rodeava ajudando os barcos a não embaterem naquela costa e a orientarem-se no seu caminho. Sentia-se importante auxiliando os outros nos seus caminhos. Tinha o seu faroleiro, que dele cuidava, o mantinha funcional e sempre grandioso. 
O faroleiro amava o seu farol e nunca o abandonava por nada, conhecia-lhe todos os pontos, percorria todos os seus degraus, de olhos fechados. se preciso fosse. Mesmo que aquela escalada diária lhe custasse, ele não desistia da sua vida de faroleiro.
Um dia o o belo e majestoso farol, durante a  sua empreitada nocturna, iluminando aquele pequeno mundo a sua volta, num olhar zeloso mas triste da sua tarefa algo solitária, sentiu-se encandeado. 
Sim encandeado! 
 A sua luz cruzava-se com a de outro farol, nunca tinha acontecido cruzarem-se assim. 
Chegara a julgar-se único e  não fazia ideia que havia mais faróis como ele. 
O faroleiro nunca lho dissera!
O outro farol, que vivia numa pequena ilhota, também se surpreendeu com aquela troca de focos. Estava triste. 
O seu faroleiro tinha-o abandonado e ele sentia-se desamparado. Mas tinha de continuar a sua tarefa iluminando o mundo que o rodeava. 
Ao ver que afinal havia mais faróis como ele sentiu-se estranhamente feliz.
Desde essa noite que os dois faróis passaram a desejar cruzar as suas luzes. 
Dos seus pontos de vigia, conscientes das suas funções, contemplavam-se ao longe, a cada cruzar de feixes de luz.
Passaram muitos Natais, sofisticaram-se os instrumentos náuticos e os faróis quase se tornaram elementos decorativos, míticos, mas sempre em funções. Cada vez mais automatizados dispensando os faroleiros sempre nas  suas grandiosas funções, iluminam o escuro da noite tal como uma árvore de natal ilumina o regresso a casa.




Sílvia.Q. Sanches 2008

Capuchinho Vermelho



O capuchinho vermelho, a própria avozinha...

O lobo não era mau...

Foi seduzido pela leveza daquela mulher que se sentia menina.

A capa vermelha dos tempos de adolescente, alegrava seu rosto.

Caminhava pelo bosque saboreando o cheiro da terra, o chilrear dos pássaros, as flores...

Amava a vida e o que a rodeava.

Não tolerava injustiças e lutava sempre pelos menos favorecidos.

Ao ver o lobo, ali sozinho, indefeso, afagou-lhe o pelo ofereceu-lhe um biscoito, e sentaram-se a venerar a floresta.

Conversaram horas sem fim...

Assunto nunca lhes faltou.

O lobo aquecia a avozinha e ela sentia-se menina.  Acarinhava-o, ouvindo suas historias.

Sentiam-se bem juntos, completavam-se...

A amizade cresceu tanto que na aldeia todos se intrigavam.

Que tanto tinham aqueles dois para conversar?

Não entendiam que uma velha mulher se podia sentir jovem e que um lobo podia ser bom.

Não aceitavam a amizade pura daqueles dois.

Diagnosticaram demência à mulher internando-a num lar.

Ao lobo, caçaram-no e fecharam-no num centro de recuperação do lobo ibérico.

Ele integrou-se com os seus companheiros de cativeiro. Sente-se acolhido pela nova alcateia.

A avozinha, cada vez mais alheada da vida, guarda ainda a capa vermelha na sua caixa de memórias. Sente-se a ovelha negra do seu rebanho.

Na aldeia contam a velha historia do capuchinho vermelho saltando a parte das crianças visitarem os avós, dando ênfase ao velho medo dos lobos.




Sílvia Sanches 2015



sexta-feira, 10 de junho de 2016

A Lenda Do Anel De Brilhantes



Vou contar uma das peripécias do meu tio porreiraço. Um autentico cool man de quem muitos gostavam, poucos não. Um filosofo capaz de fazer as delicias de quem o ouvia.
Como sabem, na Foz do Arelho, quando à maré vazia, é só ver gentinha de rabo pró ar a apanhar berbigão. É já uma tradição para muitas famílias, ir à Foz apanhar uma insolação na apanha de uns quilitos de marisco para poupar uns trocos. Já para não falar da apanha ilegal em épocas em que está fechada a apanha por razoes de saúde pública, devido a febres que estes bivalves desenvolvem. Mas o pessoal não liga.  Até é giro depois comer aquilo tudo,  parar no hospital com uma valente diarreia.
Mas naquele tempo que não havia nada dessas maleitas e era tudo fresquinho, fresquinho!
Era ver ainda mais gentinha ali de rabinho para o ar. Tinha dias que era mais gente que berbigão, ou até de grãos de areia.
Ora claro que só os nativos da região e outros tantos tugas,  é que sabiam o propósito daquelas romarias. Os estrangeiritos, coitaditos, não percebiam nada do que se passava ali e perguntavam, claro que ao meu tio, o único poliglota do pedaço, o que fazia toda aquela gente de rabo para o ar ali na água?
Ele, que não se contentava em dar uma explicação simplista da coisa, contava-lhes sempre uma história que lhe vinha a cabeça e um dia nasceu a lenda do anel de brilhantes que pegou e passou a história oficial para estrangeiros.

"A muitos, muitos séculos, ainda a península ibérica pertencia aos mouros, vivia em Óbidos uma bela princesa moura que costumava cavalgar com o seu belo cavalo árabe no areal onde hoje é água. Sim, a lagoa não existia, era um extenso areal que lembrava a princesa o seu deserto que havia deixado ao acompanhar seu pai, um sultão muito poderoso e rico, o rei dos sultões!
Um dia a bela princesa enamorou-se de um belo príncipe filho de outro rei, rival do grande sultão.
Era um amor lindo mas proibido pelos pais. Mas o casal arranjava sempre forma de se ver e um dia trocaram de anéis como que a selar o seu grande amor.
A princesa deu ao príncipe um anel de safiras e o príncipe um lindo anel de brilhantes à sua amada.
Certo dia, a princesa cavalgando no seu cavalo, deixou cair o anel e sentiu uma dor no peito muito forte. O seu príncipe tinha partido para a guerra e ela sentira como que um corte ao deixar cair o anel que ficou perdido no areal.
A princesa sentiu que o seu príncipe tinha partido para o além!
Desde aí passou a procurar o seu anel de brilhantes por aquele areal fora enquanto chorava e tanto chorou que se formou a lagoa de Óbidos. O anel nunca foi encontrado, e ao longo dos séculos cada vez mais são as pessoas que o procuram para o entregar a princesa que ainda chora a morte do seu bem-amado. "

Esta foi a história que me habituei a ouvir, com mais ou menos pormenores, contar aos estrangeiros que iam por ali passando.
Genial, não?!

Silvia Sanches 2008

Mexilhões da Foz



Um dos meus tios maternos, homem muito comunicativo e dado a línguas e culturas estrangeiras, fazia novas amizades muito facilmente com qualquer estrangeiro que lhe aparecesse no bar da praia, negócio da família nessa altura. Eu sempre venerei este tio, era como que o porta-chaves dele, acompanhava-o para todo o lado (possível claro) e seguia-lhe todas as passadas. Eu era a menina do tio e ele era o tio porreiraço que qualquer sobrinho gostaria de ter.
Ele era o maior desenrasca que conheci, nunca o vi atrapalhado com nada, sempre com soluções para tudo, mas nada programado. Fazia sempre tudo em cima do joelho, mas corria sempre bem! Quase tudo! Quase sempre!
Ora o bar situava-se junto ao velho cais da praia da Foz do Arelho e nessa época a agua da lagoa era tão límpida que se via todo o fundo bem como tudo que estivesse dentro dela.
Não se falava em poluição. Não se sabia o que era isso!
Os estrangeiros ficavam fascinados com a beleza bruta da Foz. Tudo era puro, até o povo de lá. (mas adiante)
Uma das especialidades confeccionadas no bar era o mexilhão aberto ao natural acabadinho de apanhar! Verdade, verdadinha!
Sempre que era pedida uma dose de mexilhão, soava a voz de alguém:
- Sai uma dose de mexilhão!!!
Lá ia o meu tio aos pilares do cais arrancar mais uns cachos do afamado mexilhão, fresquinho, fresquinho, que confeccionado pela minha avó, uma cozinheira de mão cheia, estimulava as papilas gustativas de qualquer um.
Os clientes adoravam e os estrangeiros então deliravam com toda esta naturalidade com que se faziam as coisas.



Sílvia Q. Sanches 2010










sábado, 9 de novembro de 2013

Verão de S. Martinho



Ia o s. Martinho no seu cavalinho,

Viu um rapazinho a tremer de frio;
Assim que o viu saltou para o chão,
Apertou-lhe a mão, deu-lhe a sua capa.
Tapa as costas tapa, não fiques molhado!
– Disse o S. Martinho desagasalhado
A chuva no céu ao ver esta cena
Sentiu muita pena decidiu parar.
O sol estava perto, veio devagarinho
Parecia verão, Verão de S. Martinho.

Lenda de S. Martinho- canta o Galo Gordo