sexta-feira, 10 de junho de 2016

Peixinhos da sorte!

O meu avô materno vem de uma família numerosa. Eram muitos irmãos. Nem sei bem quantos. Devidas as dificuldades da vida, cedo se separaram e cada um tentou a sua sorte em sítios diferentes. Uns em Alhandra, outros no Montijo, outros em V. F. Xira, aqui em Caldas, enfim de Alenquer para muitos sítios diferentes, até para Inglaterra! E um dos irmãos, o mais carismático que conheci, correu vários lugares com a sua,também grande, família desde a Marinha Grande até Lisboa, onde se instalou numa encosta na zona do Areeiro e por lá construiu a sua alegre casinha com tijolos encontrados por aí, tábuas, folhas de zinco e tal... Bem ao jeito de um filme do Fellini!


Bem, este tio, vivia do seu negócio, alias, de vários negócios. Toda a família tem espírito de negócio e todos alma de inventor. Muito imaginativos. Uns para a fotografia outros noutras artes de viver. O meu avô, por exemplo, construiu a sua primeira maquina fotográfica a la minute bem como muitas outras coisas como decores para a fotografia e mais recentemente para outro negócio com que se entretém agora, as redes. A maioria dedicou-se a fotografia. Esse irmão, o tio António, o mais velho de todos, que não era muito dado as artes, tinha mais jeito para os animais e instalou a sua banca em pleno Martim Moniz ao lado do Hotel Mundial a 20mt de uma grande loja de animais. Vendia passarinhos que criava no seu "palácio" do Arieiro e outros que apanhava nas zonas verdes que ainda existiam em Lisboa.

Um dia, e porque o negócio florescia, resolveu alargá-lo e dedicar-se também aos peixinhos. Começou por vender uns pequenos peixes que os filhos apanhavam nos charcos em terrenos baldios perto do "palácio", aos quais resolveu baptizar de peixinhos da sorte. Eh, eh, Sorte, para ele que ficava com o dinheiro e azar de quem comprava.

- Olha os peixinhos da sorte! – Apregoava ele.

Esses pequenos peixinhos eram pura e simplesmente girinos!

Quando recebia reclamações de que o peixe se tinha transformado em rã ele respondia com o ar mais  ingénuo que conseguia simular:

- Vejam bem como é que a rã foi comer o seu peixinho da sorte, isto há coisa que nem lembra ao diabo, heim!

Pois o diabo junto a este meu tio teria mesmo muito que aprender! Eh, eh, eh!

Que família!

Silvia Q. Sanches 2009

terça-feira, 7 de junho de 2016

A vida continua



Há dias tristes, que não se gosta de nada, de ninguém. 
Nem do próprio ser. 
Coloca-se em causa a própria existência, e a forma como se vive.
Há dias em que o mundo desaba e todas as luzes se apagam. 
Dias de autentica solidão.
Mas ninguém está só!
Existe sempre alguém com situações idênticas e "Qui sait" piores.
Então, é nesse momento que se começa a vislumbrar uma luzinha.
Olha-se para uma criança na rua e sorri-se.
Aquela nuvem que passa, que gira, até parece uma girafa!
Passa aquela música na rádio que já não se ouvia há séculos. (Velhos tempos!)
Passa-se por um campo repleto de margaridas (que bela foto se tirava!).
Admira-se a imensidão do mar.
O abraço de um filho num chegar a casa…
Retomam-se forças.
Levanta-se a cabeça.
Enche-se o peito de ar.
As luzes acendem-se.
Segue-se em frente.
A vida continua…

Sílvia Q. Sanches 2009

Hibernar


E quando se pensa que nesta vida tudo se sabe, isso é sinal de uma ignorância tamanha que não chegaria a terra e o mar para suportar tal disparate...
Não dormi o suficiente e apetece-me dormir. 
Não só para descansar, também para esquecer, para me isolar, para me esconder da realidade.
Tenho sono. Tenho muito sono.
Preciso hibernar, é isso!
Preciso dormir enquanto não passam as agruras da vida.
O inverno!
É verão eu sei, mas eu preciso hibernar.
Dormir a sono solto sem sonhos, pesadelos, barulhos ou outras interrupções.
Dormir sem dar pelo tempo passar.
Acordar nem que seja daqui a cem anos, jovem e fresca como a bela adormecida.
É isso! Vou comer uma maçã envenenada, ou picar o meu dedo num fuso… quero dormir! Quero esquecer o cinzento e acordar no azul!
Não é possível, pois não?!
As cores da minha tela sou eu que tenho de misturar.
Oportuno seria carregar num interruptor e desligar aquilo que não interessa!
Apagar a luz e dormir.
"Deletar" tudo o que  incomoda!
Dormir até que tudo isso passe! 
Hibernar, até à próxima primavera.
Preciso de hibernar.


Sílvia Q. Sanches 2009

Message in a bottle


Viagens


Gosto de viajar mas não tendo suporte financeiro para muitas daquelas grandes viagens,  viajo no mais profundo do meu ser, enquanto contemplo o mar ou leio um livro.
Na verdade, ler um livro é de certo das viagens mais belas e pacificas que se podem fazer. Sem as complicações dos transportes, bagagens, documentos... Para mim, são daquelas viagens que ficam para a vida. 

Lendo, posso viajar no tempo e viver vidas que jamais ousaria viver. É bom viajar, ainda que espiritualmente, conhecer outras culturas, histórias magníficas de pessoas estupendas. 
Sem fotografias, filmes ou lembranças de viagem mas com imagens, sentimentos e sensações que jamais ninguém as sentirá. 
Guardadas no mais profundo do meu ser, na minha essência, na minha alma, levarei sempre comigo as pequenas recordações das minhas grandes viagens.
Um dia, quando morrer, quero ser cremada. Quero ser espalhada por todos os lugares que me encantam. Quero que me espalhem por aí. Perpetuar em muitos lugares é um sonho antigo.
Quero voar com o vento e conhecer o mundo!

Sílvia Q. Sanches 2010

sábado, 4 de junho de 2016

I am mine


Os Amigos


Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.

Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia" 

terça-feira, 31 de maio de 2016

Dia dos irmãos

Comemora-se hoje o dia dos irmãos.
Urra irmãos!...
E se os amigos são os irmãos que escolhemos, brindemos também a eles!
Para mim todos os dias são  os dias de mães, pais, amigos, filhos... do sol, da lua, da terra...
Estamos por cá todos os dias e é enquanto cá estamos que temos de comemorar.
Comemorar acima de tudo a vida. 

Afinal somos todos irmãos!


Sílvia. Q. Sanches 31 Maio 2016

domingo, 29 de maio de 2016

Pequena Elegia Chamada Domingo



"O domingo era uma coisa pequena. 
Uma coisa tão pequena 
que cabia inteirinha nos teus olhos. 
Nas tuas mãos 
estavam os montes e os rios 
e as nuvens. 
Mas as rosas, 
as rosas estavam na tua boca. 

Hoje os montes e os rios 
e as nuvens 
não vêm nas tuas mãos. 
(Se ao menos elas viessem 
sem montes e sem nuvens 
e sem rios...) 
O domingo está apenas nos meus olhos 
e é grande. 
Os montes estão distantes e ocultam 
os rios e as nuvens 
e as rosas. "

Eugénio de Andrade, in 'Poesia e Prosa [1940-1980]' 
Pintura de Ana Paula Lopes

sábado, 28 de maio de 2016

Momento Zen


Pisar a relva molhada...
Sentir o cheiro da terra...
Abraçar as cores do campo.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Expectativas



Talvez as pessoas não me decepcionem.  O problema talvez seja eu, que espero muito delas.
Bob Marley