terça-feira, 7 de junho de 2016

Hibernar


E quando se pensa que nesta vida tudo se sabe, isso é sinal de uma ignorância tamanha que não chegaria a terra e o mar para suportar tal disparate...
Não dormi o suficiente e apetece-me dormir. 
Não só para descansar, também para esquecer, para me isolar, para me esconder da realidade.
Tenho sono. Tenho muito sono.
Preciso hibernar, é isso!
Preciso dormir enquanto não passam as agruras da vida.
O inverno!
É verão eu sei, mas eu preciso hibernar.
Dormir a sono solto sem sonhos, pesadelos, barulhos ou outras interrupções.
Dormir sem dar pelo tempo passar.
Acordar nem que seja daqui a cem anos, jovem e fresca como a bela adormecida.
É isso! Vou comer uma maçã envenenada, ou picar o meu dedo num fuso… quero dormir! Quero esquecer o cinzento e acordar no azul!
Não é possível, pois não?!
As cores da minha tela sou eu que tenho de misturar.
Oportuno seria carregar num interruptor e desligar aquilo que não interessa!
Apagar a luz e dormir.
"Deletar" tudo o que  incomoda!
Dormir até que tudo isso passe! 
Hibernar, até à próxima primavera.
Preciso de hibernar.


Sílvia Q. Sanches 2009

Message in a bottle


Viagens


Gosto de viajar mas não tendo suporte financeiro para muitas daquelas grandes viagens,  viajo no mais profundo do meu ser, enquanto contemplo o mar ou leio um livro.
Na verdade, ler um livro é de certo das viagens mais belas e pacificas que se podem fazer. Sem as complicações dos transportes, bagagens, documentos... Para mim, são daquelas viagens que ficam para a vida. 

Lendo, posso viajar no tempo e viver vidas que jamais ousaria viver. É bom viajar, ainda que espiritualmente, conhecer outras culturas, histórias magníficas de pessoas estupendas. 
Sem fotografias, filmes ou lembranças de viagem mas com imagens, sentimentos e sensações que jamais ninguém as sentirá. 
Guardadas no mais profundo do meu ser, na minha essência, na minha alma, levarei sempre comigo as pequenas recordações das minhas grandes viagens.
Um dia, quando morrer, quero ser cremada. Quero ser espalhada por todos os lugares que me encantam. Quero que me espalhem por aí. Perpetuar em muitos lugares é um sonho antigo.
Quero voar com o vento e conhecer o mundo!

Sílvia Q. Sanches 2010

sábado, 4 de junho de 2016

I am mine


Os Amigos


Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.

Eugénio de Andrade, in "Coração do Dia" 

terça-feira, 31 de maio de 2016

Dia dos irmãos

Comemora-se hoje o dia dos irmãos.
Urra irmãos!...
E se os amigos são os irmãos que escolhemos, brindemos também a eles!
Para mim todos os dias são  os dias de mães, pais, amigos, filhos... do sol, da lua, da terra...
Estamos por cá todos os dias e é enquanto cá estamos que temos de comemorar.
Comemorar acima de tudo a vida. 

Afinal somos todos irmãos!


Sílvia. Q. Sanches 31 Maio 2016

domingo, 29 de maio de 2016

Pequena Elegia Chamada Domingo



"O domingo era uma coisa pequena. 
Uma coisa tão pequena 
que cabia inteirinha nos teus olhos. 
Nas tuas mãos 
estavam os montes e os rios 
e as nuvens. 
Mas as rosas, 
as rosas estavam na tua boca. 

Hoje os montes e os rios 
e as nuvens 
não vêm nas tuas mãos. 
(Se ao menos elas viessem 
sem montes e sem nuvens 
e sem rios...) 
O domingo está apenas nos meus olhos 
e é grande. 
Os montes estão distantes e ocultam 
os rios e as nuvens 
e as rosas. "

Eugénio de Andrade, in 'Poesia e Prosa [1940-1980]' 
Pintura de Ana Paula Lopes

sábado, 28 de maio de 2016

Momento Zen


Pisar a relva molhada...
Sentir o cheiro da terra...
Abraçar as cores do campo.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Expectativas



Talvez as pessoas não me decepcionem.  O problema talvez seja eu, que espero muito delas.
Bob Marley

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sea Groove & Chullage - N'Outono


Ambiciosa

Ambiciosa


Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O voo dum gesto para os alcançar...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar...
- Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar!

Minha alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus!

O amor dum homem? - Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada...
Um homem? - Quando eu sonho o amor de um Deus!...


Florbela Espanca, Charneca em Flor (1930) 


Porto de Abrigo