O capuchinho vermelho, a própria avozinha...
O lobo não era mau...
Foi seduzido pela leveza daquela mulher que se sentia menina.
A capa vermelha dos tempos de adolescente, alegrava seu rosto.
Caminhava pelo bosque saboreando o cheiro da terra, o chilrear dos pássaros, as flores...
Amava a vida e o que a rodeava.
Não tolerava injustiças e lutava sempre pelos menos favorecidos.
Ao ver o lobo, ali sozinho, indefeso, afagou-lhe o pelo ofereceu-lhe um biscoito, e sentaram-se a venerar a floresta.
Conversaram horas sem fim...
Assunto nunca lhes faltou.
O lobo aquecia a avozinha e ela sentia-se menina. Acarinhava-o, ouvindo suas historias.
Sentiam-se bem juntos, completavam-se...
A amizade cresceu tanto que na aldeia todos se intrigavam.
Que tanto tinham aqueles dois para conversar?
Não entendiam que uma velha mulher se podia sentir jovem e que um lobo podia ser bom.
Não aceitavam a amizade pura daqueles dois.
Diagnosticaram demência à mulher internando-a num lar.
Ao lobo, caçaram-no e fecharam-no num centro de recuperação do lobo ibérico.
Ele integrou-se com os seus companheiros de cativeiro. Sente-se acolhido pela nova alcateia.
A avozinha, cada vez mais alheada da vida, guarda ainda a capa vermelha na sua caixa de memórias. Sente-se a ovelha negra do seu rebanho.
Na aldeia contam a velha historia do capuchinho vermelho saltando a parte das crianças visitarem os avós, dando ênfase ao velho medo dos lobos.
Sílvia Sanches 2015
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