sábado, 11 de junho de 2016

Capuchinho Vermelho



O capuchinho vermelho, a própria avozinha...

O lobo não era mau...

Foi seduzido pela leveza daquela mulher que se sentia menina.

A capa vermelha dos tempos de adolescente, alegrava seu rosto.

Caminhava pelo bosque saboreando o cheiro da terra, o chilrear dos pássaros, as flores...

Amava a vida e o que a rodeava.

Não tolerava injustiças e lutava sempre pelos menos favorecidos.

Ao ver o lobo, ali sozinho, indefeso, afagou-lhe o pelo ofereceu-lhe um biscoito, e sentaram-se a venerar a floresta.

Conversaram horas sem fim...

Assunto nunca lhes faltou.

O lobo aquecia a avozinha e ela sentia-se menina.  Acarinhava-o, ouvindo suas historias.

Sentiam-se bem juntos, completavam-se...

A amizade cresceu tanto que na aldeia todos se intrigavam.

Que tanto tinham aqueles dois para conversar?

Não entendiam que uma velha mulher se podia sentir jovem e que um lobo podia ser bom.

Não aceitavam a amizade pura daqueles dois.

Diagnosticaram demência à mulher internando-a num lar.

Ao lobo, caçaram-no e fecharam-no num centro de recuperação do lobo ibérico.

Ele integrou-se com os seus companheiros de cativeiro. Sente-se acolhido pela nova alcateia.

A avozinha, cada vez mais alheada da vida, guarda ainda a capa vermelha na sua caixa de memórias. Sente-se a ovelha negra do seu rebanho.

Na aldeia contam a velha historia do capuchinho vermelho saltando a parte das crianças visitarem os avós, dando ênfase ao velho medo dos lobos.




Sílvia Sanches 2015



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