Mas
as crianças não sabem o que é politica, e até aos 10 anos vivia os
meus Invernos entre a escola, as Atividades de Tempos Livres do
Colégio Ramalho Ortigão, as brincadeiras na minha rua e à porta da
loja de fotografia, esperando as férias grandes. Os verões que
pareciam eternidades, passados na Foz do Arelho, entre os mergulhos
no cais e a apanha de caracóis que se coziam ainda com ranhoca, e
que faziam as delícias dos lanches da petizada daquele “centro
comercial”. O grupo era grande, com idades compreendidas entre os 4
e os 12 anos, formava um autêntico bando de “Capitães da Areia”
daquela praia. Éramos os donos do pedaço, e os miúdos que ousassem
pensar que nos podiam fazer frente, quer no parque dos baloiços quer
na sessão de mergulhos do cais, saíam com certeza de cabeça baixa
para, depois da demonstração de “força”, se tornarem grandes
amigos do grupo. Posso dizer que tive uma infância livre, talvez
demais, mas saudável. Apendemos a ser independentes, a fazer frente
aos perigos, ou pelo menos, saber contorná-los, a respeitar as
hierarquias, a saber conviver e fazer amigos. Apesar de parecermos um
bando de “índios” éramos meninos bons e respeitadores das
regras do bem viver, sabíamos respeitar os mais velhos, adorávamos
ouvir contar histórias da lagoa ou outras experiências vividas por
eles. Ajudar os pais, avós ou tios a arrumar as respetivas vendas
era também uma das tarefas de todos os meninos e meninas, ao final
de cada dia.
Sílvia Q. Sanches 08-01-2014
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