terça-feira, 14 de junho de 2016

Sair de cena

A longa metragem, tipicamente portuguesa, corre o risco de se tornar uma infinita metragem com cenas demasiadamente longas e falas à medida do curto orçamento. 
A monótona e sensaborona história pode até ser considerada uma obra de arte. 
Alguns aplaudem, outros copiam... há até quem inveje o que julga ver. 
Na verdade,  ninguém assiste à totalidade do filme. 
Tornou-se socialmente correto apreciar historias longas, cada vez mais raras. 
O que escasseia torna-se valioso aos olhos da sociedade, mesmo que a historia seja incompreensível.
As expectativas elevam-se, o realizador perde a imaginação, ao guionista faltam as palavras e o elenco perde a cumplicidade.
A película não comporta muito mais e há que acabar com a história. 
O dilema é como acabar.
Queima-se viva a protagonista, desvendando-lhe os actos de bruxaria?
Envia-la para o desterro, deserdada de todo e todos?
Morrerá heroicamente numa batalha campal ou partirá numa fuga inglória, desaparecendo na neblina para todo o sempre? 
O publico já dorme aguardando um final um final feliz, mas há que chocar, marcar pela diferença e sair de cena sem perder o protagonismo.


Sílvia Q. Sanches - Março 2015


Mundo louco

Vivemos numa época de extremos. Do tudo ou nada....
Somos cada vez mais independentes, desligados.
A evolução tem-nos tornado nisto.
Na pré historia vivíamos em grandes grupos. Um instinto de primatas que nos mantinha em segurança e dava continuidade à espécie.
Ao longo da historia da humanidade fomos alterando os hábitos, mudando de necessidades...
De grupos grandes passaram a haver famílias...de grandes casas de família, degeneraram outras pequenas famílias... os casais com pouco mais de dois filhos... os casais com um filho... os casais com um cão ou um gato... o mono-parlamentarismo... a opção de ficar só...
Ser só por vezes parece ser a mais sábia das opções embora se tenha uma visão "da família" ainda muito vincada em cada um de nós e na sociedade em geral.
A evolução tem-nos tornado seres únicos e se "ninguém é de ninguém" para quê o sentido de posse, o sentido de "família"?
Para quê ser-se responsável por pessoas que se tornaram tóxicas na nossa vida?
Cada um evolui por si mesmo, em cada uma das suas próprias vivências, interpretando a vida da sua própria forma.
Para quê seguir grupos, lideres, famílias, normas?...
Nem todos evoluíram da mesma forma, bem sei.
A sociedade em geral retrocedeu. Manifesta-se em grandes grupos embriagados de futebol, religião, politica... influenciados pelos media, pelo "desporto", pelos reality show, pelo dinheiro, acima de tudo pelo poder!
O poder de alguém que pensa por si mesmo e que sozinho influencia uma sociedade com instintos primatas.


Sílvia.Q.Sanches - Maio 2016
  

Aquilo a que damos valor


Fausto - "Atrás dos tempos outros tempos vêm" do disco "Madrugada dos Tr...

Com Papas e Golos se entretém os tolos

Voltámos a épocas passadas. Épocas em que se mantinha o povo distraído com futebol, fado e religião para enganar a fome e mascarar a miséria em que se vivia. Nada tenho contra a religião, respeito a convicção de cada um assim como gosto que respeitem a minha. O que me entristece é que com tanta evolução a fórmula é exactamente a mesma, um bocadinho mais refinada mas exactamente a mesma.

Enquanto o povinho tem estado ocupado a olhar para o Papa, com direito a “feriado” em vários sectores, vão metendo a mão no bolso de quem menos ganha. Sim, porque não são os grandes gestores e classe politica, que contribuíram maioritariamente para o estado em que se encontra a nossa economia, que vão sentir o aperto do cinto… O povinho que não sabe mais do que trabalhar e pagar para poder trabalhar é que continua a pagar, pagar, pagar…

Bem isto parece um discurso de esquerda, podia até ser, mas tal como na religião não gosto de tomar partidos, trata-se simplesmente de um lamento de quem se sente cada vez mais espezinhado pelo sistema. É triste a forma como a classe que mais produz é tratada. Mas vai-se embebedando a populaça que esquece depressa e até as calças baixa se for preciso.

O povinho entretido com o Papa e os festejos de Fátima não percebe que se gastou 750 milhões de Euros para receber o velho homem. Grandeza tal que até faz corar alguém um pouco mais atento, não sei se de raiva se desespero ou mesmo vergonha, quando se vem a saber que no final do ano os subsídios de Natal estarão comprometidos com um corte significativo como contributo no combate a crise, que o I.V.A vai aumentar sujeitando a subida dos bens alimentares e medicamentos, que o I.R.S aumenta e com menos benefícios, que os ordenados estão congelados por tempo indeterminado, que os combustíveis aumentam mesmo com o petróleo a baixar, e muito mais… Mas pior ainda é quando se sabe que o país vai ajudar a irmã Grécia e que para tal vai ter de pedir dinheiro emprestado, isto então é de gritos.

De gritos é também o facto de assistir a uma euforia exacerbada com o futebol e as vitórias de um qualquer clube e o desinteresse pelo estado em que nos encontramos. Temo que se deslocam mais pessoas aos estádios e/ou a locais onde transmitem o futebol do que as mesas de voto nas ultimas eleições.

É triste ver que o povinho se vai deixando levar pela maré e que mesmo a avizinhar-se a tempestade do século, continua impávido e sereno brincando nas ondas, cada vez mais altas, com ou sem prancha, como se nada estivesse em perigo.

A embriaguez do futebol é tamanha que o resto passa despercebido e o povo fica feliz…

Enfim, Roma antiga dava circo e pão ao seu povo, nós temos Papa e Golos!

É uma alegria!

Sílvia Q. Sanches - Maio 2010

Ser Tuga

SER PORTUGUÊS É:


Levar arroz de frango para a praia.

Guardar as cuecas velhas para polir o carro.

Lavar o carro na rua, ao domingo.

Ter pelo menos duas camisas traficadas da Lacoste e da Tommy (de cor amarelo-canário e azul-cueca).

Passar o domingo no shopping.

Tirar a cera dos ouvidos com a chave do carro ou com a tampa da esferográfica.

Ter bigode.

Viajar pró cu de Judas e encontrar outro Tuga no restaurante.

Receber visitas e mostrar a casa toda.

Enfeitar as estantes da sala com os presentes do casamento.

Exigir que lhe chamem 'Doutor'.

Exigir que o tratem por Sr. Engenheiro.

Axaxinar o Portuguex ao eskrever.

Gastar 50 mil euros no Mercedes C220 cdi, mas não comprar o kit mãos-livres, porque 'é caro'.

Já ter 'ido à bruxa'.

Filhos baptizados e de catecismo na mão, mas nunca pôr os pés na igreja.

Não ser racista, mas abrir uma excepção com os ciganos.

Ir de carro para todo o lado, aconteça o que acontecer, e pelo menos, a 500 metros de casa.

Conduzir sempre pela faixa da esquerda da auto-estrada (a da direita é para os camiões).

Cometer 3 infracções ao código da estrada, por quilómetro percorrido!!!

Ter três telemóveis.

Gastar uma fortuna no telemóvel mas pensar duas vezes antes de ir ao dentista.

Ir à bola, comprar o bilhete 'prá-geral' e saltar 'prá-central'.

Viver em casa dos pais até aos 30 anos ou mais.

Ser mal atendido num serviço, ficar lixado da vida, mas não reclamar por escrito 'porque não se quer aborrecer'.

Falar mal do Governo eleito e esquecer-se que votou nele.

Pendurar a Bandeira Portuguesa na janela enquanto decorre o Euro e, logo a seguir a acabar, tira-la logo porque "é foleiro"


Viva Portugal, carago...

Sábias Palavras

Passamos pelas coisas sem as ver,

gastos, como animais envelhecidos:

se alguém chama por nós não respondemos,

se alguém nos pede amor não estremecemos,

como frutos de sombra sem sabor,

vamos caindo ao chão, apodrecidos.

                                                Eugénio de Andrade

Teatro da vida


"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche"

CHAPLIN

Fausto: Rosalinda; Peniche, Portugal, 1976


A central nuclear não avançou. Que bom!
Floresceu um empreendimento de luxo com campos de golfe.
Outra forma de toxicidade...
Preservou-se o mar, alterou-se a paisagem, encheram-se carteiras e ocupam-se uns quantos ex pescadores.
A Rosalinda cresceu, formou-se, emigrou e casou com um inglês.
Veio de férias ver o mar...
aprender a surfar!

Sílvia. Q. Sanches  - Agosto 2014

Caminhos



A Insónia, hoje, resolveu fazer-me companhia. trouxe a vontade com ela.
Estivemos a ver um filme que eu guardava à uns tempos... fizemos um pacto... eu e a vontade, faremos o caminho juntas. 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O estranho caso do Ser e do Ter



Unidos à nascença. Amigos inseparáveis.
Ser, filho pródigo de boas famílias, amado e super protegido, porém inseguro, medroso, libertino e mal entendido pela sociedade. 
Ter, quase nado morto, reanimado ao ultimo momento, de condição humilde, habituado a transformar fraquezas em forças, conquistador de pequenas batalhas, bem aceite socialmente.
Não vivem um sem o outro. Embora discordem frequentemente.  
Não sabem é que ocupam os lugares errados.
Ser, mais forte do que se julga, porém diminuído pelas normas sociais criadas por outros Teres, influencia, no entanto, Ter a tornar-se forte. Tão forte que o próprio Ser se esquece de si mesmo e do que o move. 
Ter, mesmo sabendo que se pode sucumbir a qualquer momento, sente-se forte. Suas conquistas tornam-no forte e bem visto aos olhos alheios. Mas sem Ser, Ter não é ninguém e não pode viver muito tempo.
Ser, com tempo, pode ganhar confiança e continuar a ajudar Ter, numa união sadia, será só uma questão de equilíbrio.
Ter terá de ceder. E Ser terá de se impor.

Sílvia Q. Sanches, jan 2016.
                                                                                                                                                                Imagem retirada da Net

Estar ou não estar... eis a questão!


Quando se chega a uma idade em que já pouco mais há para descobrir do mundo que se conhece. Quando já nem há paciência para apreciar os pequenos pormenores caindo-se no isolamento...talvez do próprio conhecimento. No egocentrismo, por assim dizer!...

E egocentrismo não tem que ser propriamente conotado com algo de negativo. O auto conhecimento é necessário, e uma pitada de egoísmo faz parte da lista de condimentos para um bom cozinhado pessoal.

Viver a vida a agradar os outros,  mostrando que se é valente, capaz de ultrapassar obstáculos, resolvendo os problemas alheios e sem conseguir alcançar o sentimento mais profundo de si mesmo é triste. É morrer aos poucos.
É como viver numa casca, num casulo, sem nunca desabrochar. 

Há momentos para tudo e que por mais perfeccionismo possa haver, há sempre algo que pode correr mal. O inesperado!

E o castelo de cartas desmorona-se...

Seria maravilhoso um mundo perfeito.
Mas a perfeição não existe e o entendimento é utópico.

Sílvia Q. Sanches - Nov 2015

imagem retirada da Net