sábado, 25 de abril de 2020

Efeitos colaterais

Com a idade tormamo-nos seletivos.
Tudo comeca quando comecamos a fazer vista grossa a velhos conhecidos em locais onde não  apetece ter aquela conversa trivial dos meninos, trabalho, ferias, etc...
E percebemos que ainda está mais refinado quando nos damos conta que os outros fazem exatamente o mesmo. 
Será  que já os ignorámos assim tanta vez ao ponto de desistirem de nos abordar?  Ou atravessam exatamente o mesmo estado?   A verdade é esta, com a experiencia dos anos vividos tornamo-nos selectivos, e passamos a escolher o que realmente interessa. Podemos parecer solitários mas, na verdade, não é por acaso que se diz que mais vale só...
Sente-se mais o som do silencio e, por vezes, a falta do abraço. Efeitos colaterais das escolhas que se fazem. 

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Flores

Hoje lembrei-me do cheiro das flores. Não das de florista, natureza morta. As flores do campo, genuinamente vivas.
Uma paisagem salpicada de cores é, sem dúvida, dos melhores presentes que a natureza nos oferece. 
Nunca gostei de ramos de florista, todos engalanados, cheios de brilho, vestidos dos mais variados envolcros com laços de formas criativas e sofisticadas. Não  gosto! Cheira a aparência, ostentação, presunção. Ja estão mortas e não sabem, as flores...
As flores silvestres são as mais genuínas,  com vida, nos campos onde nascem espontaneamente, cada uma com o seu vestido e perfume. Lindas no seu bailado ao sabor do vento. Não viveriam num balde de florisa com aquela aparencia glamorosa das flores de estufa, cridas apenas para esse efeito, mas vivem felizes nos campos sem artificios e laços. Alimentam abelhas, abrigam joaninhas, perfumam a natureza e alegram o nosso olhar. 
As flores de estufa,  não têm vontade própria. Não nascem espontaneamente em qualquer lugar e dependem dos maiores cuidados para para serem belas e cheirosas. A sua vida é efémera, fragil. Nunca sobreviveriam num campo. No entanto um bouquet de flores silvestres pode ser um encanto. 
Assim é a vida...

domingo, 29 de março de 2020

Sol

Gosto de sol.
Ja me chamaram de lagarto, cobra, animal de sangue frio... quem me conhece sabe o quanto gosto de uma bela sorna no carro, a produzir vitamina D até escorrer pelo canto da boca.
Das minhas memorias de infância recordo as grandes sestas que fazia com o avô, no carro. Ficar completamente "grogue" ao final de um par de horas na "estufa".
Preciso de sol e hoje não foi excepção. Passei a manhã e uma boa parte da tarde na varanda ao sol. Deu para ler, consultar redes sociais, ouvir os pássaros,  os vizinhos, até dormir.
Foi bom, com os níveis de vitamina D e as defesas reforçados.
Pronta para mais uma semana de clausura. 

Isolamento

Começo a habituar-me a isto. 
Dizem que para criar uma rotina so precisamos de a repetir por 21 dias, e eu ja estou quase lá!
Sempre gostei de estar em casa, no meu ninho, no meu sossego. Quando estou stressada, isolo-me um fim de semana longe do mundo. Portando,  ja não é novidade para mim, estar em casa. 
Também gosto de passear, de caminhar, viajar... preciso disso, acho que todos precisamos. Mas agora é ficar em casa, e viajar em pensamento, ou nas paginas de um livro e trabalhar, cumprindo o horário e produzindo tanto ou mais...
Gosto de casa. Gosto da minha companhia, não nos damos mal.
Diz-se que só se é realmente feliz quando sabemos viver com a nossa própria companhia. Quando não se depende da atenção de ninguem...
Pois então,  estou no bom caminho, estou bem comigo mesma, na minha rotina, no meu conforto com as minhas "taras e manias". 
Por vezes sinto falta de socializar, de estar com o meu filho, de afetos... mas há um telemovel e redes socias onde podemos saber uns dos outros. Pelo menos o que queremos mostrar aos outros.
Vivo bem assim, so preciso de garantir o meu sustento, com ou sem "guerra", não há coisa melhor que sermos donos da nossa vida, sem dependencias.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A guerra

Não tenho sono. Ou melhor, tenho mas o ruido dos meus pensamentos não me deixa descansar.
Estamos em guerra.
Fugimos de balas invisíveis, escondemo-nos de um inimigo sem rosto...
Sem rosto era o bebé que eu protegia fugindo entre escombros de um bombardeamento após o 11 de setembro. 
Era um sonho e eu, grávida, preocupava-me com o bebé que sentia dentro de mim mas que não lhe conhecia o rosto. 
Agora é real.
Sem bombas, mas explodindo as nossas vidas.
Trabalho em casa, penso que é mais seguro, será?
Não estou tão exposta às "balas", nem ameaço outros... ocupo o meu tempo a trabalhar. Um ciclo vicioso: dormir, comer, trabalhar, comer, trabalhar,  comer, dormir...
Estou a ficar quadrada. Sim, quadrada fisicamente, porque estou a comer demais, e quadrada de espírito porque não vejo mais nada do que trabalho e noticias da guerra, e das consequências num futuro muito próximo. 
Estar em casa é bom! É uma trincheira confortável, mas muito solitária. 
Estou cansada de conversar comigo mesma e dizer que está tudo bem ao telemóvel... Não está facil! 
A guerra está a deixar marcas e ainda nem se vislumbram sinais do seu fim.
Agora penso, como será o pós guerra? 
Conseguirei dormir?


sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O voltar à Idade Média



Na verdade, parece que continuamos na idade media.
Evoluiu-se em tanta coisa, construíram-se prédios, estradas, passeios, os planos de ordenação a funcionarem e tantos espaços inaugurados ou reinaugurados em vésperas de eleições… mas o essencial parece que continua por resolver, a limpeza.
Por vezes até me parece pior. Porque quando era pequena ainda via os varredores nas ruas efetivamente a limpar e a lavar com grandes mangueiras e agulhetas potentes. Agora os poucos varredores que vejo, fazem cocegas às pedras das calçadas deixando na mesma a sujidade por onde passam.
Antes também era usual ver o pessoal do comercio, e até de casas particulares, limparem o espaço a frente das suas portas. Agora não vejo nada disso.
Por onde passo, vejo passeios negros e cheios de dejetos, cantos, pilares e postes negros do sarro de urina de animais.
E não me digam que são os cães abandonados, porque não há cães a solta nas ruas da cidade.
Apetecia-me andar com um pulverizador cheio de lixívia a lavar esses locais, mas não faria outra coisa.
Bem no centro da cidade, em frente ao município, não se precisa ser um grande observador para ver um desses exemplos. As arcadas em frente ao “Novo Banco”, estão imundas. Provavelmente a responsabilidade da limpeza será do condomínio do prédio ou do próprio banco, mas é um local publico com imenso movimento, com espaços de restauração nas imediações, gente que entra e sai, que passa, passeia... há os turistas… e que bilhete postal!
Tem sido feito muito em termos de modernização, mas a evolução tem desviado a atenção para outros assuntos que não a higiene e isso não se resolve com uma aplicação de telemóvel, mas sim com medidas profundas de hábitos de saneamento.
Portanto senhores das entidades responsáveis e comuns dos cidadãos, eu inclusive, por favor retirem os olhos dos telemóveis, não é só falar do lixo dos oceanos, vejam o que vos rodeia, há muito para fazer em terra. 

quinta-feira, 18 de abril de 2019

18

Numero dezoito, tão desejado antes da maioridade e tão saudado quando duplicado.
O meu numero, sem dúvida.
Muitos acontecimentos, tropeçaram neste numero.
A avó materna nasceu a 18 de Abril, e foi num dos seus aniversários que seu filho resgatou o bem  mais precioso da menina a quem chamo mãe. Como presente de aniversario, anos mais tarde, a neta deixou de ser menina e passou a cumprir com o pagamento da divida mensal da "mãe EVA" e com dezoito perde a pureza.
Dezoito para encontros e desencontros, idades, dias, aniversários, datas, anos...
2018, ano do Caminho, passando por um dia 18, redireccionando ideias, posições, a vida...
O "Dezoito" que continuará sempre presente marcando cada passagem, cada projecto de vida sem ser esperado mas inevitavelmente presente.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Oh artistas!...

É impressionante a quantidade de argumentistas populares que este país tem.
Assim como existem "olheiros" para descobrir estrelas do futebol, e concursos de talentos para a mais variadas formas de arte, dever-se-ia criar um programa para descobrir os talentosos argumentistas especializados na vida alheia. 
Melhor ainda...
Se o governo taxar esse tipo de argumentações que tanto entretém a opinião geral acaba-se com os buracos nos cofres do estado num abrir e fechar de olhos.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Chiu...

Silêncio.
Hoje nem a TV liguei...
Nem os vizinhos de cima...
Nada.
Apenas os segundos do relógio. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Algures sem gravidade


Num daqueles momentos em que a embriaguez da gula se sobrepõe a tudo, velando o discernimento do que se pode e deve comer, via-se paralisada, flutuando no vazio, onde como que no espaço, os pensamentos passavam por si soltos, livres, como peças de puzzle idênticas umas às outras mas com um único encaixe.
Passava-lhe a ideia de ligar aquela pessoa que a tinha tentado contactar pela hora do almoço, mas o seu corpo e mente não reagiam ao estímulo de tentar ligar de volta.
O trabalho, as contas, as datas, os clientes, as horas, o salário, as obrigações, tudo peças miudinhas que flutuavam desordenadamente nos seus pensamentos, obstruindo a passagem de ideias maiores, escrever, pintar, criar, passear, planear momentos prazerosos, namorar, fazer planos a prazo. Sentia-se subterrada em problemas que não lhe pertenciam, mas que assumia como tal.
Tinha de ultrapassar isso, treinar a capacidade de dizer basta sem ferir susceptibilidades. Como faze-lo ainda estava longe de o saber. Tentava apanhar as peças, os pensamentos, arrumando por categoria, por ordem de prioridade, mas aquilo que tinha de ser não era bem o que esperava que fosse.
Aquelas pequenas peças do puzzle, ocupavam-na tanto em tentar arruma-las que não lhe deixavam tempo para fazer o que mais a motivava.
Perguntava-se naquele mesmo momento, há quanto tempo não ouvia música?
Ultimamente fazia do ruído em volta o som ambiente como se de uma música se tratasse. O som dos minutos do relógio do qual nem sabia se as horas estavam certas, o choro do bebé do apartamento de cima, o som de um carro que passava na rua… tudo menos aquelas melodias que a faziam sonhar, que a emocionavam, ou embalavam.
Estava perdida, flutuava no vazio. Continuava a rodopiar num espaço sem gravidade entre as peças de puzzle, grandes de pequenas, sem ordem, sem peso, sem chão.
Flutuava apenas, sem destino, sem tempo, sem metas, débil numa luta entre o discernimento e a embriaguez da gula e do não fazer nada.



sábado, 2 de junho de 2018

Linhas...

Prestes a concretizar um sonho de adolescente, qui ca de criança... em viagens imaginarias, vejo-me sem qualquer tipo de pressões nem influencias, a pisar de novo velhas linhas, velhos caminhos.

A tão ansiada viajem a Santiago, a minha caminhada será determinante.

Sinto que as alterações que o destino se encarregou de fazer, são propositadas para terminar ciclos, fechar portas entreabertas. 

Iniciaria de um ponto sem grande sentido e foi-me sugerido iniciar de outro ao que aceitei de imediato e que só me dei conta da importância do lugar de partida muito depois de o destino se ter encarregado de chamar a atenção de velhos caminhantes vindos de terras de pescadres.

Cada vez mais de convenço que a rede lançada pelo destino é agora conduzida pelo anjo que conheci na primeira noite do ano.

Comigo deixou paz de espírito, motivação e determinação.

Acredito que será mesmo esta a viagem da minha vida.

Em todos os sentidos. 

Será um marco de viragem.