"A coisa mais dificil e mais bonita de partilhar entre duas pessoas é o silencio."
No Teu Deserto - Miguel Sousa Tavares
Recentemente li o "Elogio ao silêncio", livro que aborda a importância do silencio nas nossas vidas.
Fazendo uma retrospectiva, constacto que o silencio está mais presente na minha vida do que eu própria poderia imaginar. Sempre fui dada a silêncios, exteriorizar sentimentos não faz parte do meu ser.
Desde pequena que o contemplo. Comigo mesma, isolada do mundo, encontro-me com o meu amigo imaginário, seja ele o meu outro eu ou até mesmo deus, não ponho isso em causa, mesmo agnóstica como sou. Agnóstica não é bem a palavra certa, talvez céptica. Sim, cepticismo é o termo certo para definir a minha relação com deus. Eu creio, mas há coisas que não acredito, para mim não passam de invenções para tornar mais fantástico um sentimento que afinal deveria ser, e é para mim, tão pessoal, tão profundo.
Por vezes gostaria de poder ter instalado no cérebro um sistema que retivesse todo o encadeamento de pensamentos e ou conversas com o meu outro eu, não correndo o risco de silenciar tantas reflexões que vão ficando deixadas momentaneamente e que quando as tento expressar por palavras acabam por já não fazer parte do contexto.
Em pequena o meu refúgio preferido era um caixote de cartão, sentia-me bem lá dentro, talvez porque o cartão abafa o som. Falava com o meu amigo imaginário, podia contar sempre com a sua companhia. Segredava-lhe os meus medos e desejos, cantava-mos, chorava-mos, riamo-nos e conversava-mos muito, muito, era… e é, o meu melhor amigo. Ninguém dava por mim. Por vezes esqueciam-se que eu ali estava de tão silenciosa era.
Gosto do silêncio, não propriamente da total ausência de som, que esse não me incomoda, o silêncio de me isolar no meu mais profundo sem que alguém interfira nas minhas conversas interiores.
Á beira-mar com os pés na areia, encontro paz de espírito mas é também noutras situações, noutros cenários que falo interiormente.
Dançar é uma das formas de me isolar no meio de uma multidão. Dançando entro numa espécie de tranze.
Ler é viajar, sonhar, aprender consolidar muitos das minhas ideias.
Escrever é exprimir o que não consigo verbalmente. Não tenho o dom da palavra embora, por vezes, consiga disfarçar muito bem.
Pintando desperto sensibilidades
Fotografando retenho momentos. Guardo janelas para a recordação.
O silêncio, que me acompanha desde sempre, continuar-me-á a acompanhar o meu percurso porque é nele que encontrarei sempre o meu outro eu.